A nova tarifa de 50% anunciada pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros deve atingir em cheio as exportações de carne bovina, especialmente de Mato Grosso, estado que lidera a produção e exportação do produto no país. A decisão, comunicada pelo presidente Donald Trump ao governo brasileiro, deve entrar em vigor em 1º de agosto e já provoca reações no mercado.
Com os Estados Unidos representando o segundo maior destino da carne brasileira - responsável por 12% do volume exportado no primeiro semestre - a medida deve causar uma queda imediata nas vendas, afetando diretamente produtores e frigoríficos de Mato Grosso. Segundo a consultoria DATAGRO, o impacto estimado é de cerca de 4% na demanda atual, número que já começa a se refletir nos preços. Os contratos futuros do boi gordo na B3, por exemplo, fecharam em queda após a notícia.
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Apesar da ameaça para os exportadores mato-grossenses, o cenário também é complicado para os americanos. A carne brasileira representa hoje 5,4% da oferta doméstica nos Estados Unidos, sendo usada principalmente na produção de carne moída - item essencial na dieta da população do país. O principal produto exportado pelo Brasil para os EUA são os beef trimmings, pedaços residuais da desossa que são moídos e misturados à gordura excedente local, criando o ground beef consumido em larga escala.
“Mesmo buscando outros fornecedores alternativos, não há nenhum player que se compara ao Brasil nem em termos de volume, muito menos em termos de preços. Ainda que a nova medida praticamente inviabilize a exportação brasileira de carne bovina aos EUA, que agora passa a superar os preços atacadistas locais em ao menos 20%, seja por efeitos diretos ou indiretos, é possível que esse diferencial se estreite substancialmente”, aponta a análise da DATAGRO.
A decisão de Trump ainda não teve resposta oficial do governo brasileiro, mas o presidente americano já avisou que qualquer retaliação será respondida com novas tarifas. Para especialistas, a curto prazo, a exportação de carne de Mato Grosso pode perder fôlego, mas há chances de compensação com redirecionamento para outros mercados, como China, Egito e países do Oriente Médio.
Com uma oferta global apertada e poucos concorrentes à altura, a carne produzida em Mato Grosso pode encontrar novas rotas.
“Diante da limitação na oferta global de carne bovina, mesmo [com os EUA] buscando outros fornecedores além dos brasileiros, as mudanças possivelmente abrirão espaço para o Brasil em outros mercados, o que a longo prazo tende a ser um fator de sustentação altamente relevante às vendas externas brasileiras da proteína”, conclui a consultoria.