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Opinião Quarta-feira, 23 de Julho de 2025, 10:11 - A | A

Quarta-feira, 23 de Julho de 2025, 10h:11 - A | A

RODRIGO MATOS

Dados públicos como ferramenta de transformação

Rodrigo Matos Medeiros

Nunca foi tão urgente repensar a forma como tomamos decisões no setor público. Com recursos cada vez mais limitados, problemas sociais complexos e uma população mais exigente, os gestores precisam ser ágeis, eficazes e, acima de tudo, bem informados. É aí que os dados entram como aliados fundamentais, não apenas para governar melhor, mas para fazer isso com responsabilidade e transparência.

Em Mato Grosso, tanto nos municípios quanto no Governo do Estado, o uso estratégico de dados começa a ganhar força. Mais do que números em relatórios ou planilhas, esses dados organizados permitem ver o que antes ficava encoberto pela rotina. Mostram padrões, evidenciam gargalos, medem resultados e oferecem uma base sólida para decisões que impactam diretamente a vida das pessoas. Com eles, é possível responder perguntas que fazem toda a diferença: onde investir primeiro? O que está funcionando? Que regiões precisam de mais atenção? Estamos avançando?

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Mas construir uma gestão pública orientada por dados ainda é um desafio. Em muitas cidades, as secretarias continuam trabalhando de forma isolada, com sistemas que não se conversam. Informações valiosas sobre saúde, educação, assistência social, infraestrutura e finanças ficam espalhadas, desatualizadas ou restritas a poucos técnicos. Isso afeta o planejamento e fragiliza a transparência.

Outro obstáculo importante é estrutural. Em diversas prefeituras, principalmente nas menores, ainda faltam equipes capacitadas e ferramentas tecnológicas que permitam registrar e analisar dados com regularidade e qualidade. E há também uma questão cultural: muitas vezes, os dados são vistos apenas como uma exigência burocrática, e não como ativos estratégicos que podem transformar a gestão.

Apesar disso, o cenário tem evoluído. Há municípios mato-grossenses que já implantaram painéis de monitoramento, organizaram seus bancos de dados e começaram a tomar decisões com base em evidências concretas. Com apoio técnico, seja de consórcios regionais, universidades, órgãos estaduais ou do próprio corpo técnico, essas administrações estão priorizando áreas mais vulneráveis, ajustando metas em tempo real e ganhando agilidade na entrega de resultados.

Esse movimento também muda a forma como se presta contas. Deixa de ser uma obrigação pontual, com relatórios técnicos e audiências formais, e se transforma em um processo contínuo de diálogo com a população. Quando os dados são públicos, atualizados e acessíveis, qualquer cidadão pode acompanhar de perto as ações da gestão, entender suas prioridades e avaliar os resultados. Isso fortalece a confiança nas instituições e valoriza o controle social.

Para que essa transformação ganhe escala, alguns passos são fundamentais. O primeiro é capacitar as equipes para usar os dados de forma analítica. Não basta ter acesso à informação, é preciso interpretá-la e aplicá-la no dia a dia da gestão. Depois, é preciso garantir que os sistemas de diferentes áreas se integrem e compartilhem informações. E, por fim, investir em infraestrutura tecnológica e em regras claras de governança, para garantir a segurança, a consistência e a continuidade dessas bases de dados.

Mato Grosso, com toda a sua diversidade social, econômica e territorial, tem um enorme potencial de transformação baseado em dados. Com as ferramentas certas e vontade política, é possível fazer da gestão pública um processo mais eficiente, transparente e conectado com as reais necessidades da população.

Tomar decisões baseadas em dados e prestar contas com clareza não é só uma evolução técnica. É uma demonstração de respeito ao cidadão, de zelo pelo dinheiro público e de compromisso com políticas mais justas e eficazes.

RODRIGO MATOS MEDEIROS é subsecretário de Sistemas do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso, advogado e pós-graduado em Administração Pública, Ciência de Dados e Big Data Analytics

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