O primeiro-ministro da Suécia, Stefan Lofven, usou um raro pronunciamento de domingo à noite para alertar a população sobre a crescente ameaça que o coronavírus representa, em meio a temores de que a estratégia usada até agora possa não ser suficiente para combater uma pandemia cada vez mais mortal.
A Suécia, que se destacou entre os países europeus por sua política de exclusão de quarentenas no combate à pandemia do novo coronavírus, confiando em medidas voluntárias, registrou em 2020 sua maior contagem de mortes no primeiro semestre em 150 anos, segudo o Escritório de Estatísticas.
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Lofven, o terceiro primeiro-ministro na história do país a fazer um discurso em cadeia nacional, disse que "muitas pessoas têm sido descuidadas em seguir as recomendações" que as autoridades de saúde dizem que são fundamentais para que o vírus seja controlado.
Diante da taxa de mortalidade consideravelmente mais alta do que a dos outros países nórdicos e leitos de terapia intensiva enchendo rapidamente, as autoridades estão agora recalibrando sua abordagem.
A decisão de Lofven de se dirigir à nação desencadeou uma onda de análises nos maiores jornais da Suécia nesta segunda-feira, conforme as páginas editoriais avaliavam a seriedade do momento. Apenas dois primeiros-ministros suecos fizeram discursos semelhantes no passado, Carl Bildt em 1992, após uma série de tiroteios por motivos raciais, e Goran Persson em 2003, após o assassinato da chanceler Anna Lindh.
Em seu discurso de domingo, Lofven disse que “todos devem fazer mais” para combater o vírus.
— A saúde e a vida das pessoas ainda estão em perigo e o perigo está aumentando — disse ele.
A Covid-19 já matou mais de 6 mil dos 10,2 milhões de habitantes da Suécia, com um total de casos bem acima de 20 mil. Ao mesmo tempo, os leitos de terapia intensiva estão enchendo rapidamente, com o dobro de pacientes infectados por coronavírus 19 de novembro em comparação com a quinzena anterior.
Em um recente relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a Suécia consistentemente se classificou entre as nações mais duramente atingidas na Europa, conforme medido pelas taxas relativas de mortalidade e infecção de Covid-19. A OCDE também observou que a Suécia ficou muito atrás de seus pares na redução da taxa de transmissão.
“O objetivo das intervenções de prevenção, incluindo estratégias de contenção e mitigação, é trazer a taxa de transmissão para menos de um, isto é, quando o número de pessoas infectadas diminuirá com o tempo. Em média, os países levaram 34 dias para trazer esse indicador para menos de um depois que a epidemia começou a se espalhar no país. O país com o período mais curto foi Malta (11 dias), com a Suécia relatando o período mais longo (58 dias)”, informou a OCDE.
Mas o ministro do Interior, Mikael Damberg, disse que ainda é muito cedo para tirar conclusões sobre a estratégia sueca.
— Vemos que grande parte da Europa foi atingida pela segunda onda — disse Damberg em entrevista à emissora pública SVT. — Nossa responsabilidade agora é que a Suécia não seja arrastada para uma situação tão séria quanto a dos outros países.
O governo, entretanto, parece reconhecer que as medidas até o momento têm sido inadequadas.
No início deste mês, o primeiro-ministro da Suécia optou pelo o que chamou de medida "sem precedentes" de proibir reuniões públicas de mais de oito pessoas. A partir de 20 de novembro, as vendas de álcool também foram proibidas após as 22h. Ambas as decisões foram um sinal de que medidas voluntárias não são mais suficientes.
A mensagem do primeiro-ministro foi igualmente inequívoca na noite de domingo: a trégua da Covid-19 durante o verão e o outono acabou.
— Tudo o que você gostaria de fazer, mas não é fundamental, cancele, cancele, adie — disse ele.