O alto índice de desemprego estampou as capas dos noticiários brasileiros nos últimos 18 meses de pandemia. Segmentos do setor de serviços, como bares e restaurantes, foram os primeiros a serem afetados pela crise sanitária e um dos últimos a retomar o crescimento. Os primeiros sinais de melhoras e estabilidade do setor conhecido como Alimentos e Bebidas (A&B) apareceram em setembro de 2021. As sondagens mais recentes no mercado para um aumento no interesse dos empresários em contratar. Só que está difícil achar candidatos.
O crescimento das intenções de contratação no setor é reflexo da alta no número de vacinados contra a covid-19. Com mais da metade da população imunizada, o Brasil presencia a redução do índice de mortes e casos graves da doença, o que possibilita a flexibilização de regras sanitárias e reabertura dos bares e restaurantes sem maiores restrições.
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Durante a crise da pandemia, muitos donos de bares e restaurantes precisaram demitir funcionários para cortar custos e sobreviver. Com isso, profissionais como cozinheiros, garçons, gerentes e auxiliares de cozinha perderam seus postos de emprego.
Agora, com a expectativa de aumento do público nos estabelecimentos, o segmento volta a abrir vagas para essas especialidades, mas está difícil encontrar candidatos. Conforme pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), cerca de 31% dos donos de estabelecimentos no setor pretende recontratar nos próximos três meses.
A intenção ainda é tímida para o segmento, mas os números de setembro apontam para um crescimento de 4% no número de novas vagas, na comparação com o mês anterior. O levantamento foi feito entre os dias 14 e 27 de setembro em todo Brasil, com empresários do setor de alimentação fora do lar.
Por outro lado, a mesma pesquisa mostra que uma em cada cinco empresas (20%) que querem contratar alegam dificuldade para recrutar trabalhadores. Situação que também é sentida pelas empresas mato-grossenses.
“Bares e restaurantes é o setor que que mais emprega, mas está sem mão de obra. Até para o primeiro emprego está difícil e não estamos conseguindo encontrar gente para trabalhar. Alguns até mostram interesse na vaga, mas não chegam a ir nem para a entrevista”, avalia Lorenna Bezerra, presidente da Abrasel Mato Grosso.
Os cargos mais qualificados são os que têm menos oferta de profissionais. Um exemplo é que quase metade (47%) das vagas para cozinheiro ficam ociosas por falta de pessoas preparadas para assumir a função. De acordo com a pesquisa, os cargos mais escassos são: cozinheiros, gerentes e chefe, especialistas sushiman e churrasqueiros, garçons e auxiliares de cozinha.
Contratar virou novela
Os empresários Irapuan Carvalho e Suzana Zigante, donos do restaurante ‘Da Feira Café e Tapiocaria’, só conseguiram fechar o quadro de funcionários na última semana, depois de alguns processos seletivos frustrados. “A dificuldade de contratação está um absurdo”, desabafa Suzana.
Para a empresária, algumas hipóteses estão ligadas ao esvaziamento de profissionais neste mercado de trabalho.
“Imaginamos que é um resquício do auxílio emergência, em que a última parcela está sendo paga neste mês [outubro]. Então, é bem provável que novembro em diante reapareçam as pessoas precisando trabalhar. Há uma outra condição que pode influenciar nisso, que é o fato de que muitos dos que ficaram desempregados decidiram abrir seus próprios negócios”, conjectura.
Atualmente, o restaurante de Suzana e Irapuan conta com seis colaboradores e, apesar de preverem crescimento entre 10 e 15% nos próximos meses, querem manter o quadro.
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“Hoje, com seis, estamos estabilizados, mas até semana passada faltavam dois colaboradores. Tivemos dificuldade em contratar, depois de várias tentativas, acho que encontramos as pessoas certas que se identifiquem com nossa visão e missão, e irão agregar”, afirma.
Para ajudar as empresas no recrutamento de novos profissionais e agilitar a retomada econômica, está sendo construída uma campanha de qualificação profissional, que envolve empresários do setor, prefeitura e governo do Estado.
“Estamos em negociação com a Prefeitura, governo do Estado e Senar para iniciar capacitações de pessoas para atender ao setor de bares e restaurantes. Em breve teremos novidades para quem deseja se capacitar”, diz Lorenna Bezerra, presidente da Abrasel-MT.
Esvaziamento de profissionais atrasa retomada e deixa “caixas vazios”
A escassez de profissionais qualificados custa caro para o segmento de bares e restaurante. A retomada do setor, que acumula prejuízos da pandemia, corre o risco de ser adiada, mais uma vez.
O impacto, segundo Lorenna Bezerra, presidente da Abrasel Mato Groso, dificulta a expansão não só da economia, mas de novas empresas que estão surgindo.
“O que percebemos é que os estabelecimentos estão oferecendo salários bons, condições boas de contratações, mas alguns não querem trabalhar no horário proposto, por exemplo. A oferta de empregos está maior que a disponibilidade de pessoas para preenche-las”, argumenta.
A proximidade de datas festivas como Natal e Réveillon, o segmento de alimentos e bebidas conta com um aumento da demanda e volta do faturamento para quitar as dívidas herdadas da pandemia.
“Nós vemos a retomada do movimento [aos estabelecimentos], mas o que não dá para dizer é que o faturamento desse empresário está no verde. Eles continuam no vermelho, pois as dívidas não foram quitadas. Mesmo com os restaurantes lotados, não está maravilhoso. Todos estão trabalhando para pagar as dívidas, os alugueis, os impostos que ficaram atrasados ou pendentes”, avalia Lorenna.
O volume de dívidas acumuladas por empresas do setor consta da 4ª edição da pesquisa da série covid-19, realizada pela Associação Nacional de Restaurantes (ANR), em parceria com a consultoria Galunion, e com o Instituto Foodservice Brasil (IFB). Os dados revelam que 53% das 94 empresas participantes na região Centro-Oeste estão com dívidas.
Dentre os tipos de dívidas adquiridas, 82% dos casos são bancárias, 66% tributárias e 24% com fornecedores. O pagamento dessa conta vai demorar para a maioria dos entrevistados. Diante do cenário da pandemia, 32% esperam conseguir quitar as dívidas em três anos ou mais, enquanto apenas 10% acreditam que consigam entre seis meses ou menos.