A profissão professor requer muita responsabilidade e dedicação integral ao seu exercício, afinal, a formação intelectual e social de crianças e adolescentes também está sob sua conduta. Os ensinamentos vão além de regras de matemática ou o uso dos porquês. É no professor que, muitas vezes, a criança vê aquele que escuta, acolhe, aconchega, traz o alívio e promove a esperança de um futuro melhor. Quem dera se a educação não tivesse como obstáculo as mazelas da sociedade. Pois é, lecionar numa escola municipal localizada em um bairro famoso por sua criminalidade exige outras habilidades do professor.
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O início da carreira de Miriam Pereira Pieper como professora começou com este estereótipo. Ela se inscreveu num processo seletivo em 2004 e após um ano e meio de espera ligaram para ela: “Olha, surgiu uma vaga para a pré-escola, mas é neste bairro. Você vai?”. Quem estava no outro lado da linha reforçou mais de uma vez: “Mas é neste bairro, tá?”. A imagem negativa do bairro, que era erroneamente atrelada à escola, não amedrontou a professora, que aceitou a oportunidade.
Após assumir a vaga, vivenciou outro tipo de preconceito: o de ser contratada. Naquele mesmo ano havia sido realizado o concurso público, no qual Miriam tentava uma vaga. Entretanto, ainda não tinha sido publicado o edital dos aprovados. Um dos episódios marcantes de sua carreira no serviço público foi uma viagem para capacitação na cidade de Lucas do Rio Verde com um grupo de professoras, com as quais dividiu o mesmo quarto de hotel. O resultado do concurso saiu durante aquele período e uma das participantes foi parabenizar as novas professoras concursadas: "Parabéns, agora somos colegas".
O escritor Antoine de Saint-Exupéry, em "O Pequeno Príncipe", revela as marcas deixadas nas vidas das pessoas pelas quais a vida se encarrega de cruzar os caminhos: “Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.” Certamente esta frase traduz a história de um aluno que cruzou a vida desta professora.
Havia um menino que estudou na escola nos anos iniciais do ensino fundamental, 1º ao 4º ano. Um menino considerado bom, gentil, com as peraltices de qualquer criança da mesma idade. Quando este aluno foi transferido para um colégio estadual, a vida dele mudou e ganhou a fama de '‘matador do bairro’', além de outros crimes que lhe foram incumbidos. Um dia esse jovem voltou à escola municipal e estava incomodando as pessoas. Mirian descreveu que na época era diretora e, junto a coordenadora e supervisora pedagógica, conversou com ele. Ao ser questionado pelas suas atitudes, ele relatou que no outro colégio foi expulso porque levou a culpa por bagunças que outros colegas faziam e essa atitude mudou o rumo de sua história: “Já que eu tentei fazer o certo e não me deram valor, agora eu vou bagunçar mesmo”. Miriam e as demais professoras o convenceram que a criminalidade não era o caminho e ele aceitou trabalhar, fazer aulas de informática e conversar com elas semanalmente. Todavia, não retornou porque foi assassinado dias depois.
Para esta professora, a escola pode fazer a diferença na vida do aluno, seja ele criança ou adolescente "a escola tem um papel fundamental na formação do caráter da criança. O professor é responsável pelos alunos e é capaz de influenciá-lo para esta situação de risco. Infelizmente, às vezes a falta de paciência, principalmente com adolescentes, acaba excluindo-os e colocando-os na rua. Os professores dos anos finais chamam a gente de 'pedabobos' porque nós estamos mais próximos dos alunos, buscando o seu bem-estar, tentando entender o que acontece com eles, e esta atenção e carinho muitas vezes supre a carência afetiva, a ausência da família e faz toda a diferença.
Com lágrimas nos olhos, por se sentir impotente diante da situação, Mirian prefere se lembrar dos abraços que recebeu, dos alunos que a reconhecem nos dias atuais e dos projetos realizados, tornando a escola respeitada pela comunidade.
"Histórias que fazem a nossa História" é um projeto do PreviSinop e da Prefeitura de Sinop, que tem como objetivo relatar através de um texto narrativo, a biografia profissional dos servidores aposentados, a fim de registrar sua vivência e memória, assim como o legado deixado no município após anos de dedicação ao serviço público.