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Polícia Quarta-feira, 12 de Agosto de 2020, 15:12 - A | A

Quarta-feira, 12 de Agosto de 2020, 15h:12 - A | A

CASO ISABELE

Morte de adolescente completa um mês; veja o que a polícia levantou até agora

As investigações começaram inicialmente com a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), mas posteriormente foram transferidas para a DEA e Deddica

Jefferson Oliveira
Cuiabá

O assassinato da adolescente Isabele Guimarães Ramos, 14, completa nesta quarta-feira (12) um mês e, até o momento, a Polícia Civil ainda não conseguiu elucidar o que de fato aconteceu na mansão situada no condomínio Alphaville I, em Cuiabá.

Até o momento, as equipes da Delegacia Especializada do Adolescente (DEA) e da Delegacia Especializada de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Deddica) já ouviram mais de 20 pessoas envolvidas de alguma forma na cena do crime. As equipes policiais comandadas pelos delegados Wagner Bassi e Francisco Kunze, trabalham de forma incessante para descobrir e punir os verdadeiros culpados pela morte da adolescente.

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As investigações começaram inicialmente com a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), mas posteriormente foram transferidas para a DEA e Deddica. Após a transferência do caso, o trabalho do delegado Olímpio da Cunha Fernandes foi contestado pela defesa da família de Isabele e também pelo Ministério Público Estadual (MP-MT).

Olímpio deu voz de prisão ao empresário - pai da adolescente que fez o disparo - por posse ilegal de arma de fogo, porém, estipulou uma fiança no valor de R$ 1 mil para que ele pudesse sair tranquilamente pela porta da delegacia. Após conhecimento do valor considerado baixo, a mãe de Isabele, Patrícia Hellen Guimarães Ramos, chegou a pedir que o empresário - que é dono de um patrimônio milionário - pagasse a quantia de R$ 1 milhão de fiança.

Segundo o Artigo 10 do Código de Processo Penal, "o inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela", que é o caso do empresário e de sua filha, que são investigados.

O prazo para a conclusão do inquérito termina nesta quarta-feira, porém, o delegado Wagner Bassi irá realizar na próxima terça-feira (18), uma reconstituição do crime, onde irá entender melhor a dinâmica do que aconteceu na casa. Na reconstituição estarão presentes as duas famílias e suas defesas.

Já esperando a reconstituição, Patrícia contratou o perito aposentado Carlos Roberto Angelotti para que acompanhe e auxilie a defesa na compreensão dos laudos oficiais emitidos pela Perícia Oficial de Identificação Técnica (Politec) e também acompanhe a reconstituição do caso.

Patrícia, ao falar com a imprensa, disse que ainda não entendeu nada, já que viu o empresário fazendo massagem cardíaca em Isabele, mesmo sabendo que a adolescente já estava morta com um tiro na cabeça. Na visão da empresária, tudo pareceu como uma encenação para tentar amenizar o fato.

A mãe de Isabele ainda detalha que, pelo que presenciou e pelas decisões tomadas pelos envolvidos em seguida, não acredita que o disparo tenha sido acidental.

Laudos oficiais

A Politec entregou na manhã de terça-feira (11) dois laudos oficiais que faltavam ao delegado Wagner Bassi. Os documentos conclusivos de balística e de local de crime revelam que o disparo não pode ter ocorrido de forma acidental. No exame de balística o perito responsável pelo laudo explica que foram realizados vários testes e que em nenhum deles a arma disparou sozinha.

"Nas circunstâncias alegadas no depoimento da adolescente, a arma de fogo, da forma que foi recebida,  somente se mostrou capaz de realizar disparo e produzir tiro estando carregada (cartucho de munição inserido na câmara de carregamento do cano), engatilhada, destravada e mediante o acionamento do gatilho", diz parte do laudo do laudo.

No exame de local de crime, os peritos identificaram que Isabele foi assassinada com um tiro a curta distância em uma linha reta atravessando a cabeça da vítima.

"O disparo foi executado mediante o acionamento regular do gatilho da pistola Imbel (nº HGA44564) com o atirador na porção esquerda do banheiro. No ato do disparo, o agente agressor posicionou-se frontalmente em relação à vítima, sustentou a arma a uma altura de 1,44m do piso com alinhamento horizontal e a uma distância entre 20 e 30 centímetros da face da vítima. O motivo e a finalidade da ação não foram determinados pela perícia”, diz o laudo oficial.

O delegado só aguardava o recebimento destes laudos para realizar o exame do local de crime e encerrar o inquérito que completará 36 dias no dia da reconstituição.

Empresário não colaborativo

O advogado Hélio Nishiyama, que defende a família de Isabele, disse que o empresário pai da autora do disparo não estava colaborando com a justiça e que o mesmo deveria ser preso por conta disso.

“A princípio ele tem demonstrado que não pretende contribuir com a investigação. Ele está demonstrando que não pretende atender ao chamado da justiça, porque se assim fosse a intenção dele, evidentemente teria comunicado ao juiz sobre o seu paradeiro”, declarou o advogado em entrevista ao programa Cadeia Neles, na TV Vila Real, no dia 24 de julho.

Além disso, outras evidências no curso das investigações, demonstram que o empresário tentou dificultar que as autoridades competentes chegassem ao local do crime e chegou a omitir que teria uma pessoa baleada em sua casa.

Arquivo Pessoal

Isabele Ramos

 

A omissão aconteceu quando o proprietário do imóvel ligou para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). O empresário ligou para o Samu às 22h02 e, às 22h03, sua filha mais velha também entrou em contato com serviço. Foi ela, a filha, quem informou que Isabele tinha sido baleada. O empresário disse que a vítima tinha levado um tombo.

O desencontro nas informações motivou o médico que falava com o empresário a ficar em dúvida e questioná-lo se realmente havia sido uma queda ou um tiro que aconteceu no local. “É tiro ou queda senhor?”, questionou o médico.

O empresário novamente voltou a dizer que foi queda e o médico o interrompe e informa que estava entrando outra ocorrência no mesmo local dizendo que foi tiro.

“Não, não tem nada de tiro não”, respondeu o empresário. Após isso, o médico do Samu informa que a viatura já está a caminho e que ele também acionaria a polícia, o que causou espanto no empresário.

Em depoimento, um dos policiais militares que atendeu a ocorrência relatou que o milionário tentou barrar sua entrada, avisando à portaria que a polícia só poderia entrar caso tivesse um mandado judicial. No entanto, outros policiais amigos do empresário tiveram acesso instantâneo ao local do crime.

A viatura só foi autorizada a entrar no Alphaville I após os militares conversarem com o responsável pela portaria e ele pedir que um segurança os acompanhasse até a casa do empresário.

Lá os policiais em serviço encontraram outros três policiais à paisana, sendo um militar e dois civis, mas ficaram ao lado do empresário enquanto o imóvel era periciado.

Policiais na corregedoria

As corregedorias da Polícia Civil e da Polícia Militar também passaram a atuar no caso e a investigar a conduta dos servidores públicos no dia do crime.

Jefferson Oliveira | Estadão MT

Fernando Raphael

 

O sargento Fernando Raphael Ferreira de Oliveira, que estava de serviço na hora do crime, abandonou seu posto de trabalho e, utilizando uma viatura, foi até a casa do empresário que é seu amigo. Segundo o próprio Raphael, ele foi ao local como representante da Federação de Tiro de Mato Grosso (FTMT) para prestar apoio a um atleta federado.

Mesmo em serviço, Raphael ficou no local até o final dos trabalhos policiais e ainda acompanhou o empresário até a DHPP, onde ele prestou depoimento. A conduta do sargento é investigada pela corregedoria da PM, que pode inclusive afastá-lo de suas funções.

Já a corregedoria da Polícia Civil investiga a conduta do delegado Olímpio Fernandes na condução do caso, que além da fiança de valor mínimo, ainda de acordo com o Ministério Público Estadual (MP-MT), foi complacente com o empresário e não o enquadrou por homicídio doloso.

Outros dois policiais civis identificados como Mário José Leite dos Santos e Leandro Livinali Ecco que estavam agindo como “seguranças” do empresário foram afastados das unidades que atuavam e a conduta dos mesmos é alvo de investigação da corregedoria.

*Nomes dos envolvidos preservados em cumprimento ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)

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