Um contrato de locador e locatário é o que liga a família das vítimas do atentado a uma casa em Peixoto de Azevedo, a 692 km de Cuiabá, aos suspeitos do crime: Ines Gemilaki, de 48 anos, o filho dela, Bruno Gemilaki Dal Poz, de 28 anos, e o marido dela, Marcio Ferreira Gonçalves, de 45 anos, conforme a linha de investigação da Polícia Civil.
No último domingo (21), os suspeitos invadiram a casa das vítimas. Eles estavam armados e efetuaram diversos disparos. Dois idosos morreram, e um padre ficou ferido. Na terça (23), Márcio Gonçalves e o irmão, Eder Gonçalves Rodrigues, que também participou do crime, foram presos. No mesmo dia, Ines e o filho se entregaram à polícia e foram presos preventivamente.
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De acordo com a Polícia Civil, o vínculo entre os suspeitos e as vítimas começou em em março de 2021, quando as famílias firmaram o primeiro contrato de locação de um imóvel. O contrato foi encerrado um ano depois, em março de 2022.
Segundo a família que sofreu o atentado, o imóvel foi devolvido em péssimas condições de manutenção e higiene e com atraso de um mês de aluguel no valor de R$ 5 mil, além de dívidas de energia, internet e TV.
A esposa do proprietário arcou com as reformas para reparar o local o que, segundo ela, totalizou R$ 44,1 mil.
"Não tínhamos o interesse de alugar o imóvel, mas um vizinho disse que ela era uma pessoa boa, então concordamos. Ela não entregou nem a chave do imóvel para nós, saiu sem justificativa e fomos atrás dos nossos direitos. Ela sempre se demonstrou uma pessoa super educada e atenciosa”, contou ao g1.
O caso virou uma briga judicial. Os proprietários do imóvel entraram com um processo contra Ines para tentar recuperar o dinheiro. O documento indicou que, como a família não possuía fotos do imóvel de antes do contrato, não foi possível comprovar se a casa estava ou não nas mesmas condições que foi entregue, e o processo não teve continuação.
“Não há como precisar se o estado do imóvel quando da entrega e encerramento da locação era igual ou pior o estado de conservação do imóvel. As conversas de WhatsApp anexadas a exordial não possuem fatos a comprovar o estado original do imóvel quando da entrega das chaves a reclamada” diz trecho da decisão.
Ao todo, conforme o processo, o valor da dívida de Ines com a família ficou em R$ 59,1 mil, considerando o aluguel atrasado (R$ 5 mil), as obras necessárias (R$ 44,1 mil) e o período de dois meses que o imóvel ficou indisponível para uso em razão das reformas (R$ 10 mil).
“Conforme demonstram as imagens anexas, houve deteriorações em peças sanitárias, fechaduras, pisos, papéis de paredes, câmeras de segurança, portão eletrônico, além de outras avarias, que não são decorrentes do uso normal”, alegam os proprietários em trecho do processo.
Suspeita registrou BO antes do crime
Ines registrou um boletim de ocorrência contra o dono da casa onde ocorreram os homicídios horas antes do crime, alegando sofrer ameaças por causa de uma suposta dívida que, segundo ela, não devia. Ela disse que recebeu mensagens no celular, sendo intimada da cobrança.
Na denúncia, Ines disse que, um dia antes, três homens teriam entrado na casa dela, procurando-a, mas somente o marido dela estava na residência. Em seguida, disseram ao marido que ela estava em dívida com eles, e teriam ameaçado o filho dela também.
Relação de longa data
A filha de uma das vítimas, Janete Bogo, de 40 anos, disse ao g1 que todos que estavam na casa tinham uma boa relação com a família de Ines. Oito pessoas estavam na casa no momento do ataque. Pilson Pereira da Silva, de 81 anos, e Rui Luiz Bogo, de 69 anos, foram baleados e morreram.
José Roberto, padre que ficou ferido durante o ataque, disse que Ines encontrou uma das vítimas quatro dias antes do crime e a abraçou. Segundo ele, Rui Luiz Bogo, de 69 anos, um dos idosos mortos na casa, ajudou a mulher no período em que ela perdeu o ex-marido e os dois eram conhecidos de longa data.
"Entrei em contato com uma pessoa, que me falou que, na última quarta-feira, ela [Ines] esteve no escritório de contabilidade em que o seu Rui estava fazendo a declaração do imposto de renda e o abraçou quando saiu. Ela já conhecia seu Rui há mais de 25 anos", relatou.
Os assassinatos
Mãe, filho e cunhado foram flagrados por uma câmera de segurança invadindo a casa e efetuando vários tiros. O marido de Ines, segundo a polícia, também estaria envolvido no caso, pois teria dado apoio à fuga.
Segundo a esposa do proprietário da casa, uma das vítimas mortas no ataque, era o pai dela.
"Nós [ela e o marido] éramos alvos dela, mas pela misericórdia de Deus não executou a gente. Ela matou meu pai", disse.
Ines e Márcio são Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores (CACs). No entanto, as armas usadas no crime não possuem registro.
A mulher foi flagrada por uma câmera de segurança sorrindo e apontando a arma logo após sair da casa. Nas imagens, também é possível o filho dando um tiro em direção à câmera.
Momentos depois do crime, mãe e filho foram flagrados comprando cerveja, água e refrigerantes, na conveniência de um posto de combustível, na cidade Matupá, a cerca de 13 km do local do homicídio, durante a fuga. Uma câmera de segurança da conveniência registrou o momento em que a suspeita apressou a atendente, enquanto falava ao telefone.
Eder Gonçalves Rodrigues, irmão do marido, e portanto cunhado de Ines, também foi preso. Ele foi apresentado em audiência e foi representado o pedido de conversão da prisão em flagrante em preventiva. Essa representação será analisada pelo juízo da Comarca de Peixoto de Azevedo.
Inês e Bruno (mãe e filho) passaram por audiência de custódia no final da tarde desta quarta-feira (24) e seguem presos. Segundo a polícia, eles devem responder pelos crimes de duplo homicídio e associação criminosa.