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Opinião Sexta-feira, 11 de Julho de 2025, 08:42 - A | A

Sexta-feira, 11 de Julho de 2025, 08h:42 - A | A

MARCO AURÉLIO

Trump x Lula: o produtor rural brasileiro no centro de uma crise anunciada

Marco Aurélio Mestre Medeiros*

A recente decisão do presidente Donald Trump de aplicar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil é mais do que um gesto político: é um ataque direto à espinha dorsal da economia brasileira, o agronegócio. E pior: essa medida acontece em um momento em que o produtor rural já lida com uma série de dificuldades internas, sem apoio efetivo de políticas públicas e com um Plano Safra que, na prática, virou um improviso.

Ao transformar a tensão geopolítica entre Trump e Lula em tarifas que atingem produtos como carne bovina, café, suco de laranja e etanol, o presidente norte-americano empurra o Brasil para uma crise de proporções que ainda nem conseguimos dimensionar. O impacto direto será sentido no campo, no bolso do produtor, no planejamento das safras, nas dívidas com bancos e fornecedores, e, principalmente, na estabilidade econômica de milhares de famílias que dependem dessa atividade.

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A guerra ideológica entre líderes estrangeiros e nacionais, quando desagua em medidas econômicas, atinge o elo mais frágil: quem produz. O agronegócio brasileiro, que já sofre com os altos custos de produção, juros abusivos e quebra de safra, agora terá de enfrentar mais uma barreira para acessar mercados internacionais. E vale lembrar que os EUA são um dos principais destinos dos nossos produtos agrícolas.

Quem conhece a realidade do campo sabe que o produtor rural brasileiro não tem margem para absorver mais prejuízos. Em 2024, tivemos um recorde de pedidos de recuperação judicial no setor agropecuário, fruto de um ciclo de endividamento que se agrava ano após ano. E o que o Estado tem feito? Pouco ou quase nada. As políticas públicas são tímidas, a burocracia continua sufocante e o crédito escasso.

Quando um país como os Estados Unidos, tradicional parceiro comercial, impõe uma barreira como essa, a consequência natural será o aumento dos preços internos de produtos básicos. E isso afeta o consumidor diretamente. Um tarifaço não prejudica apenas quem exporta: ele encarece a comida na mesa do brasileiro, pressiona a inflação e gera desemprego na cadeia produtiva.

É preciso, com urgência, que o Governo Federal entenda o tamanho da encruzilhada em que o país está entrando. O Brasil precisa proteger seus produtores. Precisa reagir com inteligência, diálogo internacional e valorização do agronegócio como motor da nossa economia. A retórica política não sustenta lavoura, não alimenta rebanho, não paga contas.

Se há um lado para se estar nesse momento, é o lado de quem planta, colhe, cria, exporta, emprega e movimenta o Brasil. O agronegócio não pode ser moeda de troca em disputas ideológicas. Já basta o que enfrentamos internamente. O produtor rural brasileiro não merece e não pode pagar essa conta sozinho.

 

*MARCO AURÉLIO MESTRE MEDEIROS é advogado especialista em recuperação judicial de empresas do agronegócio. Sócio-fundador do Mestre Medeiros Advogados Associados, com atuação nacional. Secretário-Geral da Comissão Especial de Falências e Recuperação Judicial do Conselho Federal da OAB

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