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Opinião Sexta-feira, 29 de Outubro de 2021, 06:00 - A | A

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EDITORIAL - 29/10/2021

A dor invisível

Da Editoria

Editoria | Estadão Mato Grosso

A crise alimentar global acelerou ainda mais com a pandemia e o aprofundamento das desigualdades nesse período. O número de pessoas sem possibilidade de comprar alimentos era de 135 milhões em 2019 e cálculos preliminares apontam que dobrou durante o ano de 2020, chegando a 270 milhões de indivíduos. Retrato disso é o ressurgimento das ‘panelas comunitárias’, símbolo da extrema pobreza que se tornou comum no Chile e no Peru. Famílias inteiras se põem na fila à espera de uma porção de frango com arroz, preparada por voluntários.

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Paradoxalmente, temos quebrado recorde atrás de recorde de produção de alimentos, sobretudo aqui no Brasil, onde mais de 10 milhões de pessoas (quase 5% da população brasileira) não têm o que comer. Estima-se que pelo menos 84,9 milhões de pessoas enfrentaram algum grau de insegurança alimentar durante o ano da pandemia, número que tende a aumentar com o fim do auxílio emergencial e o avanço do desemprego.

Desde 2017 têm soado alertas de que a soma das desigualdades brasileiras com o crescimento do desemprego e os cortes de programas sociais iriam resultar em um avanço significativo da fome e da miséria no Brasil. Dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam essa suspeita. O auxílio emergencial deu uma trégua para os mais pobres, mas não foi suficiente para reverter essa situação, já que o desemprego avançou significativamente na esteira das restrições impostas pela pandemia – restrições necessárias para conter o vírus, diga-se de passagem, mas que cobram seu preço, como todo tipo de guerra.

O cenário de 2021 merece uma atenção especial devido às especificidades do momento. A pandemia trouxe uma turbulência geral às economias e fez disparar os preços dos alimentos e de outras commodities essenciais para a produção agropecuária. Exemplo disso é o boi, que bateu recorde histórico recentemente, com a arroba cotada a R$ 300, restringindo o acesso da população menos abastada a essa fonte de proteína. Os preços de cereais básicos como soja, milho, trigo e arroz também dispararam nos últimos tempos, apesar das produções recordes.

Diante de um cenário tão complexo como este, somente a união social é que pode reverter essa crise. Precisamos compreender que a extrema pobreza é o ponto de partida para a fome e, por isso, seu enfrentamento deve ser feito em frentes múltiplas. Além da parcela que cabe aos governos, a quem cabe a difícil tarefa de equalizar as desigualdades sociais e garantir renda à população mais pobre, é preciso que a sociedade civil se mobilize para que esses direitos se tornem permanentes.

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Tivemos várias experiências bem-sucedidas de combate à fome no Brasil, que mostram claramente que podemos superar essa questão com união e bom senso.

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