Amado por boa parte da população do planeta, homenageado o ano todo com centenas de campeonatos ao redor do mundo e com mais de 150 anos de história, o futebol pode ser considerado um dos maiores fenômenos de cultura e esporte de todos os tempos.
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Olga Bagatini | Museu do Futebol

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Com suas raízes na terra da rainha, o futebol alcançou patamares colossais de popularidade e movimenta bilhões de dólares todos anos. Segundo uma pesquisa da fundação Getúlio Vargas, só o futebol brasileiro movimenta cerca de R$ 16 bilhões por ano.
Nesta segunda-feira (19) é comemorado o dia Nacional do Futebol e para comemorar essa data, o Estadão Mato Grosso conversou com o Ademir Takara, bibliotecário do Museu do Futebol em São Paulo.
Entendendo a data
O Dia do Futebol, segundo Ademir Takara “foi criado pela então Confederação Brasileira de Desportos - atual Confederação Brasileira de Futebol - em 1976. O dia escolhido foi o da fundação do Sport Club Rio Grande, ainda hoje o mais antigo clube de futebol em atividade, desde 19/07/1900.”
“E da terra da rainha, veio o futebol... ou será que não?”
A versão oficial do futebol naquela época pertencia à Inglaterra e veio para terra do samba no fim do século XIX pelo então estudante Charles Miller, que trouxe consigo uma bola, algumas camisas e um pequeno livro de regras. Por mais improvável que possa parecer, esse ato foi o estopim inicial para a propagação do esporte pelo Brasil. Charles é considerado o pai do futebol brasileiro.
Ademir conta que houve uma espécie de efeito-Charles Miller. "Vários casos de estudantes que saíram de suas cidades natais, conheceram o futebol e, ao retornar para suas casas, levaram bolas e ensinaram o futebol aos conterrâneos. Uma legião de 'Charles Millers' em várias cidades brasileiras”, explica.
O bibliotecário diz que “existem registros da prática do futebol antes de 1895, em especial no Colégio São Luís, em Itu (SP), e no bairro de Bangu, no Rio de Janeiro. Mas o que chama a atenção no jogo organizado pelo Charles Miller é a preocupação em seguir as regras da Football Association e o registro cuidadoso feito pelo Charles Miller em cartas enviadas aos amigos na Inglaterra. Por isso a data de maio de 1895 é considerada como a do primeiro jogo de futebol no Brasil”
E como foi esse jogo?
Segundo Takara, o primeiro jogo oficial foi um marco do esporte no Brasil. A partida foi organizada por Charles Miller, entre amigos, conhecidos e funcionários da São Paulo Railway, London Bank e da Companhia de Gás”. Os times foram batizados de The Team do Gaz e o outro The S.P. Railway Team, que se sagrou campeão por 4x2.
O efeito do jogo foi tamanho que atraiu a atenção de um jogador alemão da época, Hans Nobiling, responsável por introduzir a rivalidade no futebol brasileiro.
“Ele era jogador na Alemanha e, quando veio para São Paulo, soube que os ingleses do São Paulo Athletic Club (SPAC) jogavam futebol, mas como o clube era só para britânicos, ele não conseguiu se associar. Depois ele foi até o time do Mackenzie College, mas lá só podiam jogar estudantes. Então ele montou o próprio time, o Hans Nobiling Team e desafiou os Mackenzie para um jogo... De certo modo, introduzindo a rivalidade no futebol”.
Um esporte da elite
Nos dias de hoje o futebol pode ser encontrado em todo o lugar, mas nas suas primeiras décadas, ele foi um esporte exclusivamente para os homens ricos da época. Ademir explica que os jogadores não eram contratados, como é hoje em dia, na época eles tinham que ser associados do clube e segundo o bibliotecário “pagavam para jogar.”
Um dos times lutou contra esse sistema, o “Scottish Wanderers”, que disputou o Campeonato Paulista de 1914-1915.
O time era uma união de ex-sócios escoceses do SPAC, o lendário time de Charles Miller, mas que deixou oficialmente o futebol em 1913. “Naquela época o profissionalismo era totalmente proibido e o time sequer tinha um lugar para reunir os jogadores. Então a Liga descobriu que os escoceses dividiam entre eles as rendas dos jogos e expulsaram o time do Campeonato” conta Ademir.
Ao decorrer do ano de 1900, com o envelhecimento desses jogadores “elite”, era inevitável a popularização do esporte e o nascimento da era de ouro do futebol começa aí. O jogo se espalha pelos bairros operários e pobres, ganhando ainda mais força graças com a ambição de vencer, que fez os clubes abrirem espaço para jogadores talentosos, que antes não teriam essa oportunidade devido à origem.
Essa abertura, dá espaço para o estrelato em campeonatos de times como o próprio Corinthians que se consolidou em 1920 como um dos principais times de São Paulo, mas que foi ganhando espaço desde 1910, ano de sua fundação.
As regras do futebol e suas mudanças
O futebol nem sempre foi como nos vemos na televisão, muita coisa mudou. Veja abaixo algumas das principais mudanças:
O goleiro não existia no início do futebol, sendo a função criada em 1871. O goleiro tinha liberdade de pegar a bola em qualquer lugar do campo. Contudo, o jogo começou a ficar bagunçado, o que motivou a criação da grande área para delimitar o campo de ação do goleiro.
A origem dos cartões "vermelho" e "amarelo" também é curiosa e surgiu no Brasil, durante a copa de 1966 num jogo entre a Inglaterra e Argentina. Segundo Ademir, o árbitro do jogo expulsou o capitão argentino, que não saía do campo por não entender a mensagem, precisando de um intérprete.
Naquela época o juiz simplesmente expulsava o jogador aos berros e isso levou Ken Aston, um juiz inglês de futebol a ter uma ideia para sistematizar o jogo e foi na copa 1970 que os cartões, amarelo e vermelho nasceram.
Experimentos
De tempos em tempos, algumas coisas são testadas no futebol. Talvez um dos testes mais inusitados foi o uso do “cartão azul” que simbolizava uma expulsão temporária. Outro teste inusitado, foi o uso de dois árbitros durante o Paulistão de 2000 e 2001, mas que caiu por terra por causa dos custos.
As mudanças mais recentes nas regras foram a introdução do árbitro de vídeo (VAR) e o aumento no limite de substituições por jogo, que passou de 3 para 5 jogadores. Esta última mudança aconteceu por causa da pandemia e pela necessidade de dar maior rotatividade aos elencos dos times.
Essas experimentações buscam garantir que o futebol se atualize às novas tendências e não fique estático no tempo. Não fossem elas, estaríamos ainda assistindo guerreiros jogando com as cabeças de seus rivais, como faziam os maias e astecas em seu jogo de bola.