O dólar abriu em forte alta de 1,81% nesta quinta-feira (10), aos R$ 5,6027, com os investidores repercutindo o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a aplicação de tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros, a partir de 1º de agosto. Na máxima, a moeda americana chegou a R$ 5,6213.
Ao justificar a medida, Trump citou Jair Bolsonaro e criticou o julgamento dele no STF, chamando o caso de “vergonha internacional”. Especialistas no Brasil e no mundo destacaram o teor político da carta. "Não seria a primeira vez que os EUA usam a política tarifária para fins políticos", disse o economista Paul Krugman, vencedor do Prêmio Nobel.
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Em resposta, o presidente Lula prometeu reagir com base na Lei da Reciprocidade Econômica.
Com o anúncio, o Brasil se tornou o país com a taxa mais alta entre as novas tarifas divulgadas pelo presidente americano. Desde segunda-feira, Trump tem enviado cartas a diversos líderes globais estabelecendo taxas mínimas para a negociação comercial. Até agora, 22 nações já foram comunicadas.
A situação preocupa o mercado financeiro devido à avaliação de que as tarifas podem elevar os preços ao consumidor e os custos de produção, o que tende a aumentar a inflação e forçar o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) a manter os juros do país altos por mais tempo.
Na agenda econômica brasileira, o destaque do dia é a divulgação do IPCA de junho, que confirmou um novo estouro da meta de inflação do país. Houve uma alta de 0,24% em junho, acumulando 5,35% em 12 meses, bem acima do limite de 4,50%.
Assim, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, precisa divulgar uma nova carta aberta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicando os motivos do estouro.
Tarifa de 50% sobre o Brasil
De acordo com a carta de Trump enviada nesta quarta-feira, a tarifa de 50% será aplicada sobre "todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os EUA, separada de todas as tarifas setoriais existentes".
Produtos como o aço e o alumínio, por exemplo, já enfrentam tarifas de 50%, o que tem impactado diretamente a siderurgia brasileira.
Assim, a nova tarifa deve atingir em cheio outros setores estratégicos da economia nacional. A medida pode afetar diretamente itens como petróleo, aço, café e carne bovina, que lideram as exportações do Brasil para os Estados Unidos.
Além do teor político da carta, Trump também justificou a taxação como uma resposta às tarifas e barreiras comerciais impostas pelo Brasil, classificadas por ele como “injustas”.
O presidente americano disse que o comércio com o Brasil gera um déficit insustentável para os EUA, o que colocaria em risco a economia e a segurança nacional.
Apesar do argumento, dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que o Brasil tem registrado déficits comerciais seguidos com os EUA desde 2009 — ou seja, há 16 anos.
Resposta de Lula
Em resposta a Trump, Lula afirmou que o Brasil não aceitará ser tutelado por ninguém e que a elevação unilateral de tarifas sobre exportações brasileiras será respondida com base na Lei da Reciprocidade Econômica.
A lei, aprovada pelo Congresso quando Trump começou a impor tarifas extras a países de todo o mundo, prevê que o Brasil deve taxar quem também o taxa.
A carta de Trump, porém, também trouxe um alerta claro: se o Brasil reagir elevando suas próprias tarifas, os EUA aumentarão ainda mais as taxas sobre produtos brasileiros.
Por outro lado, Trump sugeriu que a tarifa poderia ser reduzida caso o Brasil abrisse seus mercados e eliminasse tarifas e barreiras comerciais.
Ele também afirmou que empresas brasileiras poderiam evitar a tarifa ao fabricar seus produtos diretamente nos Estados Unidos, prometendo agilizar os processos para viabilizar essa iniciativa.