Cuiabá está no topo do ranking das capitais brasileiras com maior proporção de empregos verdes, ao lado de Florianópolis (SC) e Rio Branco (AC). Cerca de 20% dos vínculos formais de trabalho da capital mato-grossense estão ligados a atividades que promovem, preservam ou restauram ambientes sustentáveis — uma participação que supera em mais que o dobro a média nacional, de 8,7%. Os dados são do relatório “Habilidades e empregos verdes para adolescentes e jovens no Brasil”, divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) na última semana de junho.
De acordo com o levantamento, o Brasil tem atualmente cerca de 6,8 milhões de empregos verdes. Desse total, Mato Grosso tem 42.514 empregos verdes. A maioria das vagas são ocupadas por jovens: 2 milhões dos empregos verdes são de adolescentes e jovens entre 14 e 29 anos — ou seja, 30% de toda a força de trabalho verde no país é formada por essa faixa etária.
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O estudo também aponta que, apesar da concentração de vagas sustentáveis em grandes centros urbanos — 53% das vagas estão em cidades que concentram 43% dos vínculos —, capitais de porte médio como Cuiabá se sobressaem pela proporção elevada de empregos com viés ecológico em relação ao total do mercado local.
OPORTUNIDADE E INCLUSÃO
Para o Unicef, o avanço de cidades como Cuiabá mostra o potencial dos empregos verdes como vetor de inclusão socioeconômica. O relatório destaca áreas com alto potencial de absorção de jovens trabalhadores, como a agroecologia, a gestão de resíduos, o saneamento, a geração de energias renováveis e as cadeias produtivas florestais.
No caso de Mato Grosso, setores como a produção de etanol de milho, o uso de bioinsumos, o plantio direto e a logística de baixo carbono são as principais engrenagens da economia verde estadual. Mais de 90% da energia consumida no estado vem de fontes renováveis, e Mato Grosso lidera a produção nacional de etanol de milho.
Segundo Linacis Silva Vogel Lisboa, secretária adjunta de Agronegócios, Crédito e Energia da Sedec, a posição de destaque de Cuiabá é reflexo da convergência entre política pública, vocação econômica e responsabilidade ambiental.
“Mato Grosso está conseguindo alinhar crescimento econômico com responsabilidade ambiental. O fato de Cuiabá estar entre as capitais com maior proporção de empregos verdes demonstra que o Estado já está trilhando uma transição concreta para uma economia de baixo carbono”, afirmou.
FORMAÇÃO AINDA É DESAFIO
Apesar dos bons números, o Unicef alerta que a formação técnica voltada para a economia verde ainda é insuficiente e pouco acessível fora dos grandes centros. Para a chefe de Educação do Unicef no Brasil, Mônica Pinto, o país tem uma oportunidade única de conectar educação, juventude e sustentabilidade.
“É preciso educar crianças, adolescentes e jovens para promover e viver uma vida sustentável, e isso inclui a participação na economia verde. Precisamos incluir de forma sistemática a educação ambiental nos currículos e expandir a educação profissional com foco nas habilidades verdes”, defendeu.
Ela lembra que o país ainda convive com altos índices de informalidade, o que exige o reconhecimento de saberes comunitários, como os desenvolvidos por povos indígenas, e o fortalecimento de iniciativas de capacitação informal.
Como parte das ações, o Unicef lançou um curso online gratuito sobre crise climática e economia verde, voltado para jovens interessados em atuar no setor.
O relatório destaca ainda um desequilíbrio de gênero no setor: 60,5% dos empregos verdes são ocupados por homens, contra 39,5% por mulheres. Na faixa etária de 14 a 29 anos, a diferença é um pouco menor, mas ainda significativa.
O desempenho de Cuiabá, nesse contexto, serve como modelo de descentralização e mostra que a transição para uma economia mais sustentável pode gerar oportunidades reais, inclusive para os jovens. Porém, o relatório também deixa evidente que é preciso investir em políticas de formação e inclusão.