Desde o começo do ano, os brasileiros estão sofrendo com os aumentos sucessivos no preço dos alimentos, combustíveis, gás e outros produtos que acabam esmagando o orçamento das famílias. Apesar de ser um caso a parte na economia nacional, Mato Grosso não vive uma situação diferente neste quesito. Milhares de famílias passam por um sufoco ao tentar apenas se alimentar, precisando fazer verdadeiras ‘mágicas’ para sobreviver. Uma dessas é a dona Laura Pinheiro, 51 anos, moradora do bairro Residencial Aricá, em Cuiabá.
- FIQUE ATUALIZADO: Entre em nosso grupo do WhatsApp e receba informações em tempo real (clique aqui)
- FIQUE ATUALIZADO: Participe do nosso grupo no Telegram e fique sempre informado (clique aqui)
- FIQUE ATUALIZADO: Receba nosso conteúdo e esteja sempre informado. Em nosso grupo do Whats (clique aqui) ou para entrar em nosso canal do Telegram (clique aqui).
Dona Laura mora com seus seis netos e não tem trabalho fixo. Ela trabalhava em um hotel, mas perdeu o emprego após um acidente e, para completar, cada vez que ela vai ao supermercado fica mais triste. A dificuldade acontece não só no começo ou final do mês. Todos os dias é preciso travar uma verdadeira batalha para colocar o alimento na mesa.
“Agora eu estou gastando muito mais do que eu gastava antes. Está tudo muito caro. Estou sobrevivendo muitas vezes com a ajuda do povo. Para se ter uma noção, eu até estou tendo que cozinhar no fogão a lenha, pois com o preço do gás não consigo mais comprar ele toda vez que acaba”, exclama.
Laura não sabe pontuar em específico qual valor gastava antes e quanto gasta agora, com a escalada dos preços de tudo aquilo que precisa para viver com seus pequenos. O peso da inflação, que já bate na casa de 10%, ela sente quando vai fazer compras.
“Antes eu gastava menos porque eu tinha menos crianças e as coisas estavam mais em conta. Antigamente uma compra de 600 reais era "a compra". Agora, você traz tudo na mão. Com uma compra desse valor, eu conseguia passar uns 30 dias. Agora eu não consigo passar nem 20. Para eu sobreviver o mês inteiro, eu preciso de pelo menos R$ 1.500”, pontua.
As dificuldades encontradas pela dona de casa foram pioradas ainda mais depois que ela teve o auxílio emergencial cancelado, sem nenhum aviso prévio. O valor que recebe do Bolsa Família é insuficiente para garantir o alimento do mês. Para lidar com as contas, Laura precisa fazer um verdadeiro 'malabarismo', escolhendo se colocará comida na mesa ou se terá energia elétrica.
“Com tanta coisa para pagar e com o aumento nos preços todo o mês, eu preciso descobrir um santo para cobrir outro. Eu estou tentando arrumar a casa aqui para deixar melhor para os meus netos, se eu quiser comprar uma bolsa de cimento, muitas vezes eu tenho que deixar até de comprar uma carne ou leite”, explica.
Se a comida já tá cara para comprar, fica mais difícil ainda prepará-la diante do alto preço do botijão de gás. Em alguns lugares, ele chega a custar R$ 120, valor difícil de encaixar no pequeno orçamento de dona Laura. Por isso, ela passou a cozinhar em um fogão de lenha e há meses não tem gás em casa. “Não tenho dinheiro para comprar”.
Matheus Maurício / Estadão Mato Grosso

Em meios às dificuldades, dona Laura e netos não perdem a esperança por dias melhores
“Não dá pra sobreviver assim não. A minha sorte é que meus netos recebem uma cesta básica da escola e que ganho alguns alimentos, isso é o que dá um norte todo mês para, para que a gente consiga sobreviver (...) o valor que tenho não dá para sobreviver. Vivo sempre da providência de Deus”, conclui.
DISPARADA DE PREÇOS
Especialistas explicam que aqueles que menos têm são os mais afetados pela inflação, principalmente no formato atual. Em conversa com a reportagem, Vivaldo Lopes explica o motivo que leva as famílias de baixa renda a sentirem duas vezes mais o peso da inflação.
“Enquanto a inflação média para todos nós está em torno de 9,68% nos últimos 12 meses até agosto, para as famílias de baixa renda, aquelas que possuem até dois salários mínimos, a inflação chega até 12,70%. Ela é bem mais impactante para essas pessoas de baixa renda”, cita.
Para explicar esse efeito perverso do aumento nos preços, Vivaldo cita um levantamento realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A pesquisa aponta que o salário mínimo para garantir o essencial para uma família de dois adultos e duas crianças, sem nenhum tipo de luxo, deveria ser de R$ 5.315,74. Valor quase cinco vezes mais alto do que o salário mínimo real, de R$ 1.100.
Vivaldo lembra que esse cenário desastroso da economia, com inflação acima de 10%, não era visto no Brasil há quase 10 anos. E não há uma receita mágica para lidar com a disparada dos preços, principalmente na conjuntura atual, em que o nível de desemprego também está elevado, acima de 13%. Isso causa um efeito de 'tempestade perfeita'.
“O que essas famílias podem fazer, elas já estão fazendo, estão se virando. Ao mesmo tempo em que as coisas aumentam, essas pessoas estão convivendo com o desemprego e a perda de renda, uma tempestade perfeita. Algumas estão consumindo menos, outras comendo o mesmo, mas em quantidade menor ou com qualidade inferior”, destaca.