Familiares do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, delator da trama golpista, relataram à Polícia Federal (PF) terem sofrido insistentes contatos de advogados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo Agnes Cid, mãe do delator, eles queriam que todos tivessem uma defesa única.
"Essas tentativas de aproximação eram muito constrangedoras, porque eu sabia o que eles queriam, basicamente, que trocássemos de advogados e que fossem todos ligados a uma única defesa", relatou Agnes.
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A declaração dela, entregue por escrito ao STF (Supremo Tribunal Federal), é datada da última segunda-feira (23). Foi feita dentro da notícia-crime peticionada por Mauro Cid após o advogado Eduardo Kuntz pedir a anulação da colaboração premiada do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, por supostamente ter mantido conversas com o delator, obrigado a manter sigilo sobre o que havia dito.
Cid também prestou depoimento e falou sobre as supostas conversas com Kuntz, reveladas por ele mesmo, por meio do perfil "Gabrielar702".
O ex-ajudante de ordens negou ter mantido diálogo com o defensor de Marcelo Câmara e disse não saber quem criou o perfil citado.
O delator também afirmou que houveram tentativas de aproximação de Kuntz com sua filha, menor de idade, entre agosto de 2023 e o início de 2024. Disse que ele usou como artifício assuntos relacionados ao hipismo, já que ela é atleta da modalidade.
Conforme o termo de declaração, Cid disse não ver motivo para Kuntz manter contato constante com a filha, porque "não tinha relação próxima com o advogado". E que acredita que ele o fez "para obter informações sobre o acordo de colaboração firmado pelo declarante e, com isso, obstruir as investigações em andamento, aproveitando-se da inocência de sua filha menor de idade".
Na petição apresentada pelos advogados de Cid, há alguns detalhes de como foram essas conversas. Kuntz teria dito à filha de Cid que, toda segunda-feira, ele fazia uma limpeza no celular, "evidentemente na tentativa de que a menina também o fizesse", argumentam.
A defesa de Cid também entregou o telefone da filha do delator para que pudesse ser periciado.
Procurado, o advogado Paulo Bueno preferiu não comentar. Kuntz disse que, dada a "indevida interpretação" da sua atividade profissional, irá se manifestar nos autos, "inclusive para preservar a menor". "Destaco, apenas, que tais documentos são muito importantes para reforçar que a prisão do meu cliente (coronel Marcelo Câmara) é desnecessária e, consequentemente, ilegal", completou.
Fábio Wajngarten não retornou o contato.