Brinquedos alinhados sob as rodas de um carro e sendo esmagados, alimentos colocados debaixo de instrumentos de pressão para serem destruídos, velas sendo pisadas... basicamente qualquer coisa sendo esmagada. Vídeos com o chamado "crushing" ("esmagamento", em português) fazem sucesso nas redes sociais e no YouTube, com milhões de visualizações.
- FIQUE ATUALIZADO: Entre em nosso grupo do WhatsApp e receba informações em tempo real (clique aqui)
- FIQUE ATUALIZADO: Entre em nosso grupo do WhatsApp e receba informações em tempo real (clique aqui)
- FIQUE ATUALIZADO: Participe do nosso grupo no Telegram e fique sempre informado (clique aqui)
Podem ser desde aqueles com produções mais grandiosas em que utilizam prensa ou triturador industrial, até outros que usam carros ou um sapato para esmagar as coisas. O importante é que uma vez que o vídeo seja publicado, é só esperar pelos cliques, porque eles virão.
Franco Martins, médico especialista em medicina do sono, explica que o sucesso destes vídeos pode ser comparado com o de conteúdos de ASMR (Resposta Sensorial Autônoma do Meridiano, em inglês). O efeito no cérebro pode ser parecido.
"Podemos enquadrar estes vídeos dentro da resposta do sistema nervoso e de certa forma até psicológica em gerar algum tipo de satisfação para quem está assistindo", diz o Dr. Martins.
Segundo ele, isso tem relação com o estímulo sensorial que os vídeos acarretam. "Esses conteúdos estimulam a concentração através da visão e, algumas vezes, da audição. A pessoa fica tão concentrada no que está vendo que se distai", explica.
O neurologista Ricardo Matsugo concorda. "O que imagino que aconteça é que as pessoas ficam tão concentradas no que estão vendo que esquecem das outras coisas, como os problemas do dia a dia e as preocupações da rotina".
- FIQUE ATUALIZADO: Participe do nosso grupo no Telegram e fique sempre informado (clique aqui)
Conteúdos como estes receberam recentemente uma definição em inglês: "oddly satisfying", algo como estranhamente satisfatório em português. A satisfação, segundo ele, vem da redução do estresse ou ansiedade que as cenas de esmagamento causam no cérebro.
"Elas levem a uma redução da ansiedade pelo caráter de previsibilidade. A pessoa, internamente, faz uma projeção do que vai acontecer ao ver um pneu que está próximo de esmagar brinquedos, por exemplo. E tem a sensação de satisfação de ouvir o barulho disso acontecendo", detalha.
O mineiro Kaique Oliveira, de 27 anos, é estudante de educação física e consumidor de vídeo de crushing nas horas vagas. Para ele, assistir os vídeos depois de um dia de trabalho e estudos é relaxante.
"Me sinto tranquilo quando vejo esses vídeos. Parece que já sei o que vai acontecer. Sempre vejo antes de dormir porque sei que vai acalmar minha mente."
Assistir este tipo de vídeo nas redes sociais já virou rotina para o jovem. "Acho que é como qualquer outro conteúdo. Tem gente que relaxa vendo clipe de música ou acompanhando canal de crítica de filmes. Tem gente que lê. Eu gosto de ver esses vídeos".
Sucesso entre as crianças
Há um segmento de vídeos de crushing na internet direcionado especialmente a crianças. Alguns canais que reúnem milhões de visualizações em vídeos que mostram brinquedos e comidas sendo esmagadas.
Para o Dr. Matsugo, o sucesso é semelhante com o observado em elementos como a geleca (ou slime), hand spinner e mais recentemente o pop it, que também se popularizou entre crianças. "São atividades que demandam concentração, mesmo que mínima, através do tato. No caso dos vídeos, a visão e audição devem cumprir este papel sensorial".
Com os vídeos de crushing, no entanto, o especialista diz que não dá para saber se o efeito nas crianças é o mesmo observado por Kaique.
"É difícil entender como as crianças absorvem esses vídeos. Essa geração que cresce com a tecnologia tende a consumir muito conteúdo sobre determinado assunto e depois muda para o próximo assunto do momento. Talvez achem relaxante, mas pode ser só por uma distração mais superficial também. É difícil saber."
Efeitos adversos
Apesar do efeito satisfação e relaxamento obtidos através dos vídeos, os especialistas alertam que eles não neutralizam a necessidade de acompanhamento especializado.
"Se uma pessoa está com crise de ansiedade ou tem um quadro do transtorno, precisa ser acompanhada por um psicólogo. O vídeo pode ajudar a relaxar no final de um dia, como qualquer outro hobby, mas é um profissional preparado para lidar com o distúrbio que vai ajudar de verdade", explica o Dr. Matsugo.
Outro cuidado necessário citado pelo Dr. Franco Martins é referente ao consumo de vídeos de crushing por pessoas com Transtorno do Espectro Autista ou doenças neurológicas que possuem maior sensibilidade sensorial.
Para algumas dessas pessoas, o efeito relaxante do vídeo pode não acontecer, podendo, inclusive, ter o resultado contrário. Segundo ele, o conteúdo pode acarretar angústia, ansiedade e frustração caso a projeção interna do espectador não se concretize. Por exemplo, se a pessoa espera que o brinquedo seja destruído e isso não acontece.
"A reação que cada pessoa vai ter é muito variável. Pode ser desde uma decepção ou frustração, e pode desencadear a liberação de adrenalina, cortisol (corticoide produzido em reação ao estresse), substâncias que estão associadas a pior qualidade do sono", diz o médico. Ele explica que uma noite de sono mal dormida pode interferir na saúde mental.
No entanto, Martins diz que os vídeos por si só não são prejudiciais mesmo para pessoas com maior sensibilidade sensorial.
Segundo ele, é que preciso que, nos casos necessários, a pessoa seja submetida a acompanhamento psicológico. Esse procedimento é comum a quem possui o diagnóstico de autismo ou doença neurológica.