A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) emitiu uma nota técnica, nesta quarta-feira (8), confirmando a hipótese de que uma espécie de mariposa causou o surto de lesões que causam coceira, registradas em ao menos 21 cidades pernambucanas. Esta também é a hipótese considerada pela Secretaria Executiva de Vigilância em Saúde do Recife.
A nota técnica é assinada pelos médicos Cláudia Ferraz e Vidal Haddad Junior. No documento, eles afirmam que "o mistério está resolvido", já que foi comprovada a existência de cerdas liberadas pelas mariposas do gênero Hylesia nos exames feitos.
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Em imagens feitas com um microscópio, os dermatologistas encontraram as cerdas da mariposa na pele de pacientes. Esse material, segundo a nota técnica, pode permanecer na pele por dias e até semanas, causando a dermatite.
Uma das hipóteses investigadas foi a de escabiose, conhecida como sarna. Os pesquisadores consideraram que essa linha de investigação era "absurda" devido ao tipo de transmissão, à distribuição e aspecto das lesões e ao fato de que nenhum ácaro foi achado em muitas amostras de exame.
"Chegamos à conclusão, ao diagnóstico de dermatite causada por mariposas. Esse diagnóstico foi bem estabelecido pela própria característica das lesões, que se localizavam na área dos braços, área exposta, e também pela época do ano, em que ocorre uma proliferação natural das mariposas", disse a dermatologista Cláudia Ferraz.
Ferraz, que também é vice-presidente da SBD em Pernambuco e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), apontou que as comunidades em que começaram a surgir os sintomas, na Zona Norte do Recife, reiteram o diagnóstico.
"[São] comunidades que margeiam áreas de mata, como da mata atlântica, que é o caso dos locais que iniciaram esses surtos, ali na região da Guabiraba e de Dois Irmãos", explicou.
Ainda segundo a médica, as cerdas são liberadas pelas mariposas durante o voo e, assim, entram em contato com a pele, provocando uma reação alérgica com bastante irritação e muita coceira. Ela disse, ainda, que não é necessário o contato direto com o inseto para ser afetado. Basta o voo, que pode liberar as cerdas, levadas pelo ar.
"Esse voo costuma ocorrer à noite. Não é à toa que os pacientes relatam que essa coceira é mais intensa no período noturno e, além de caírem sobre a superfície da pele, podem ficar sobre móveis, sobre roupas, se ficarem em contato com essas mariposas", declarou Cláudia Ferraz.
Outro fator que ajudou os pesquisadores a fecharem o diagnóstico é o fato de não haver sintomas associados à coceira, como ocorre em quadros virais e de infecção. Não há dor de cabeça e mal estar, mas apenas a coceira, que pode durar entre sete e 20 dias, a depender da intensidade das erupções.
"O tratamento vai de acordo com intensidade dos sintomas. Lesões mais localizadas a gente geralmente conduz com a aplicação de medicações em creme, com corticoides, que têm poder anti-inflamatório, muitas vezes associados a anti-histamínicos, para reduzir essa coceira, e em casos muito acentuados, corticoides orais", disse a dermatologista.
Também é recomendado que os pacientes apliquem compressas frias nas lesões, mas que, principalmente, procurem unidades de saúde para receberem tratamento adequado. Não é recomendada a automedicação.
"Se houver a percepção de mariposas na área, a gente recomenda a colocação de panos úmidos sobre as superfícies para remover possíveis cerdas depositadas naqueles locais. Outra orientação que a gente chama a atenção, também, é que evitem matar as mariposas. Elas são fundamentais no ciclo biológico e para o próprio equilíbrio da natureza. A gente é quem está margeando o local da mata, então, vamos aprender a lidar com esses ciclos naturais do animal", afirmou.
Recomendações
Mais cedo, a Secretaria Executiva de Vigilância em Saúde do Recife reforçou o pedido para que os moradores da capital não se automediquem e procurem uma unidade de saúde para que um profissional da área faça o diagnóstico e trate adequadamente os sintomas.
Além disso, recomendou que as pessoas não matem as mariposas e que, se puderem, coloquem telas em casa e mantenham portas e janelas fechadas ao entardecer.
O hábito da mariposa Hylesia é de voar, principalmente, no fim de tarde. Com isso, também é recomendado diminuir luzes externas, não deixar roupas em varal ao entardecer, passar um pano com água nos móveis para evitar espalhar cerdas se estiverem lá e manter as mãos sempre limpas para evitar uma infecção secundária.