“Os países do G20, que incluem as principais economias do mundo, são responsáveis por cerca de 80% das emissões globais de gases de efeito estufa. Esse alto percentual reflete a grande concentração de emissões, principalmente devido à atividade industrial e ao uso de combustíveis fósseis por esses países. A ONU tem alertado sobre a necessidade de os países do G20 intensificarem a ação para reduzir as emissões, em meio ao aumento das temperaturas e eventos climáticos extremos”.
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Enquanto o mundo não colocar um prazo para parar de explorar e usar combustíveis fósseis, petróleo, gás natural e carvão, tudo o mais terá apenas efeito mitigatório e não a mudança de rumo nesta saga destruidora, que tem alimentado as COPs ao longo dos últimos trinta anos.
Como sempre, quando de grandes eventos, em todos os países que são selecionados para sediá-los, uma verdadeira euforia, um “despertar do orgulho nacional”, enfim, um verdadeiro ufanismo, como escreveu o Conde Afonso Celso em sua obra “Porque me orgulho de meu país”, escrito em 1900, toma conta da população.
No caso do Brasil podemos ver este clima de euforia quando da realização da ECO-92, nos Jogos Pan-Americanos em julho de 2007 no Rio de Janeiro e, muito mais ainda, quando da Copa do Mundo de Futebol, em 2014, quando diversos “elefantes brancos” e obras bilionárias, eivadas de corrupção e inacabadas, como o VLT de Cuiabá e Várzea Grande, continuam nos alertando para os perigos desse ufanismo.
Todo este clima é estimulado pelos governantes de plantão, em todas as esferas: Federal, Estaduais e Municipais; pelo empresariado, ávido de aumentar seus lucros, graças a esses eventos, aos meios de comunicação e até mesmo `as Igrejas, que acabam ‘embarcando” nesta onde alienadora.
Em minha opinião e de vários outros estudiosos das questões socioambientais, enfim, toda esta euforia tem como objetivo desviar a atenção da opinião pública em relação aos graves, eternos e estruturais problemas socioambientais e políticos que existem no país e que, historicamente, suas soluções concretas e verdadeiras têm sido postergadas ao longo de décadas.
Este clima de euforia contribui e alimenta a alienação e passividade coletiva, constituindo-se como um anestésico para as grandes massas, no contexto da “mistificação das massas pela propagando política”, (O livro "Mistificação das massas pela propaganda política" foi escrito por Sergei Tchakhotine e publicado em 1967) e pelo “marketing’ oficial e dos demais setores que se alimentam dos recursos públicos.
Este é o que estamos observando há vários meses, desde que o Brasil foi selecionado para ser a sede de mais uma Cúpula do Clima, as famosas e pouco eficientes COPs – Conferências do Clima, que teve a sua primeira Edição em Berlim no ano de 1995, ou seja, exatamente há 30 anos, por isso COP30.
Confrontando os dados mundiais da crise climática (ODS 13 - Ação Contra a Mudança Global do Clima, um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela ONU em 2015, mesmo ano em que o Papa Francisco publicou a Encíclica Laudato Si e na COP 21 foi firmado o Acordo de Paris por nada menos do que 196 países), inúmeros outros dados sobre o desmatamento, as queimadas, da degradação dos cursos d’agua, do aquecimento das aguas dos mares e oceanos, da destruição da biodiversidade vegetal e animal, do aumento da poluição dos solos, das águas, do ar; do aumento da mortalidade humana por causas ambientais, do aumento de lixo plástico, chega-se `a triste conclusão de que o Planeta Terra, hoje, em 2025, três décadas após a primeira COP está em situação muito pior do que naquele ano de 1995. Se naquele ano o Planeta Terra deu entrada na UTI, hoje, este paciente está em estado terminal e não tem nenhuma justificativa para tanta euforia e ufanismo.
De acordo com Dados do Relatório da ONU, em 03 de março de 2024, mais de 13 milhões de pessoas morrem por ano devido à exposição a fatores de risco ambientais. Dentre eles estão a contaminação do ar e da água, substâncias químicas presentes no meio ambiente, pesticidas e radiações ultravioletas
Apenas mais um dado desta triste realidade, para muitos, como os NEGACIONESTAS AMBIENTAIS/ECOLÓGICOS, nada alarmante, mas que representa uma das inúmeras consequências da degradação ambiental: “Em 2021, estima-se que a poluição do ar tenha causado 8,1 milhões de mortes em todo o mundo. A poluição do ar é uma das principais causas de problemas respiratórios e doenças cardiovasculares, que podem levar à morte prematura”
No mundo inteiro, inclusive no Brasil os biomas e ecossistemas continuam sendo destruídos impunemente , a quantidade de áreas degradadas tem aumentado, as queimadas e desmatamento e a mudança dos regimes de chuva, o derretimento das geleiras continuam em uma velocidade alarmante, afetando o equilíbrio climático e ecológico mundiais, a Amazônia já perdeu quase 30% de sua cobertura vegetal original; a seca de grandes rios está se tornando uma constante, quase que anualmente; a desertificação , as secas prolongadas e as chuvas torrenciais estão acontecendo com uma frequência muito maior, enfim, nesses 30 anos a situação climática no mundo todo e também no Brasil tem piorado muito.
Todavia, as COPs, desde a primeira até esta que será realizada em Belém (COP30) em novembro próximo, tem se negado a discutir e aprovar resoluções para enfrentar o maior problema, a principal causa da crise climática, que é a produção e uso dos combustíveis fósseis, que são responsáveis por 75% de todas as emissões de gases de efeito estufa, a grande e maior causa da crise climática, que, na verdade são a principal causa de todas essas mazelas climáticas.
“Os países do G20, que incluem as principais economias do mundo, são responsáveis por cerca de 80% das emissões globais de gases de efeito estufa. Esse alto percentual reflete a grande concentração de emissões, principalmente devido à atividade industrial e ao uso de combustíveis fósseis por esses países. A ONU tem alertado sobre a necessidade de os países do G20 intensificarem a ação para reduzir as emissões, em meio ao aumento das temperaturas e eventos climáticos extremos”. Fonte: Sites France Presse e G1-Meio Ambiente, 12/11/2024
O segundo problema, desafio é que os países do G20, em que o Brasil faz parte, são responsáveis por 80% dessas emissões e, à medida que vários desses países, como aconteceu com os Estados Unidos “deixam’, abandonam o Acordo de Paris, quando são os grandes poluidores e destruidores do planeta, tudo o mais passa a ser medidas paliativas, quando não mera propaganda internacional.
O terceiro problema também negligenciado nas discussões que ocorrem nas COPs é a questão do financiamento internacional e a constituição de um Fundo Internacional, mantido pelas contribuições dos países que mais poluem, para que os demais países que pouco ou quase nada poluem, possam fazer face aos encargos decorrentes de políticas públicas voltadas para combaterem ou meramente mitigarem os efeitos negativos das mudanças climáticas/crise climática, cujas origens são os grandes poluidores.
No caso brasileiro, o Governo Federal desde há muito comprometeu-se no contexto do Acordo de Paris, do qual o Brasil é um dos primeiros signatários, apesar dos compromissos assumidos, como o de “desmatamento zero”, pouco ou nada foi feito e o desmatamento, se foi reduzido bem pouco na Amazônia, o aumento do desmatamento e das queimadas nos demais biomas, como Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica e Caatinga, acabam por “neutralizar” esta redução mínima ocorrida na Amazônia.
De forma semelhante, o Brasil tem em torno de 135 milhões a 140 milhões de hectares de terras/áreas degradadas, que continuam aumentando. O Governo brasileiro, já sob a batuta do Presidente Lula, cujo discurso ambiental é muito controvertido, ora passando a imagem de que vai cuidar do meio ambiente de forma séria, mas que é contraditório ao “entrar” para a OPEP – Países produtores de petróleo e que tem pressionado muito para continuar explorando petróleo no fundo do oceano e agora conseguiu autorização do IBAMA, para iniciar pesquisas e futuramente exploração de petróleo e gás natural (combustíveis fósseis, já extremamente condenados) na Foz do Rio Amazonas e região costeira bem mais ampla.
Outro compromisso não cumprido pelo Governo brasileiro, assumido por Lula, é em relação ao reflorestamento, de uma área mínima de 12 milhões de hectares que foi o compromisso, diante do tamanho das áreas degradadas e em processo de degradação.
Conforme matéria no “site” O ECO, de jornalismo ambiental, de 03 de Maio de 2023, dos 12 milhões de hectares a serem reflorestados com nada menos do que OITO BILHÕES de árvores, apenas 0,68% desta meta, assumida perante o Acordo de Paris, soa como algo extremamente ridículo. “Desde o início de 2016, quando o Acordo de Paris passou a vigorar, o Brasil restaurou ativamente, por meio do plantio de árvores nativas, apenas 79 mil hectares, ou 0,65% da meta brasileira”.
A continuar com este ritmo, levaremos no mínimo 210 anos para recuperar as áreas degradadas até 2023, sem considerar que o desmatamento e as queimadas continuam ajudando a aumentar a extensão das áreas degradadas no Brasil. Até lá com certeza o Planeta não terá condições de sustentabilidade para a vida humana e de inúmeras outras espécies vegetais e animais.
Diante disso, cremos que a realidade não nos estimula a ter grandes “ambições” em relação a COP 30, será mais um fórum para discussões homéricas, belos discursos e sugestões grandiosas, mas cujos resultados continuarão sendo pífios como os decorrentes de todas as COPs realizadas desde 1992 até hoje.
Igrejas, Ongs, entidades “representativas” da sociedade civil organizada, incluindo também organismos públicos, a começar pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudanças climáticas, governos estaduais, municipais e o empresariado não podem participar deste engodo ufanista, mesmo por que Belém e o Pará não se credenciam nem como cidade e muito menos como Estado que zela, de fato, pelo meio ambiente, como tantos outros da Amazônia, incluindo Mato Grosso, Rondônia, Tocantins e todos do Centro Oeste, onde, tanto a floresta amazônica, quanto o Pantanal e o Cerrado continuam sendo destruídos impiedosamente.
Da mesma forma que o Trado de Kyoto não foi cumprido desde o início, quando foi aprovado, também o Acordo de Paris e as ‘resoluções” de todas as COPs, não é justo que o povo brasileiro continue sendo enganado em relação ao que, de fato, seja resultado desses grandes eventos, que pouco tem contribuído para mudar o Cenário de degradação e destruição dos biomas, ecossistemas, enfim, de nosso Planeta Terra.
Enquanto os países não firmarem um acordo, estabelecendo um ano, a partir do qual a exploração e o uso de combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão) sejam proibidos, como fonte maior dos sistemas energéticos, os resultados práticos das COPs serão meras fantasias.
Enquanto os países, principalmente os que integram o G20, como o Brasil, não forem realmente responsáveis e responsabilizados pelo não cumprimento dos Acordos Internacionais que, livremente assumem, a crise climática , a degradação do meio ambiente/ecológica e a destruição do Planeta continuarão sua marcha inexorável e quem paga esta conta são todos (população em geral), mas de uma forma muito mais triste e sofrida as camadas excluídas e vulneráveis, vale dizer, os pobres e oprimidos, como bem nos alertou ao longo de anos o saudoso Papa Francisco.
Lamentavelmente as exortações do Papa Francisco, como também os alertas de milhares de cientistas e estudiosos das questões socioambientais tem caído em ouvidos moucos de nossos e de todos os governantes mundo afora, que se deleitam em manipular a opinião pública visando apenas seus interesses imediatos e de seus apoiadores, principalmente dos grandes grupos econômicos que são responsáveis maiores pela degradação socioambiental.
*Juacy da Silva é professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste. E-mail [email protected] Instagram @profjuacy Whats app 65 9 9272 0052