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Opinião Quarta-feira, 07 de Maio de 2025, 11:07 - A | A

Quarta-feira, 07 de Maio de 2025, 11h:07 - A | A

JOTA JOTA

O “Índio” não quer ser mais “Índio”?

Jota Jota*

Com o passar dos anos, os povos indígenas no Brasil, vêm enfrentando transformações profundas em seus modos de vida, muitas delas, impostas por um processo contínuo de aculturação. A influência crescente do mundo externo, somada à falta de empatia e compreensão da sociedade dominante, tem provocado mudanças na identidade indígena, a ponto de muitos questionarem se o “índio” de hoje, ainda deseja preservar sua ancestralidade ou se está sendo, de forma sutil e forçada, conduzido a abrir mão dela.

A chegada da tecnologia, das mídias digitais e das facilidades do chamado “mundo moderno”, conquistou parte das novas gerações indígenas. Jovens conectados à internet, com celulares em mãos, participam de redes sociais, e consomem conteúdos que, em grande parte, refletem valores e comportamentos da cultura ocidental. Isso não é, por si só, um problema. A questão mais delicada, está na maneira como essas inovações são introduzidas: sem diálogo, sem respeito à cosmovisão indígena e, muitas vezes, com imposições silenciosas que desconstroem práticas, línguas e crenças seculares.

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Além da tecnologia, outro fator que contribui para essa transformação, é a ausência de empatia da sociedade brasileira, com os povos originários. Ao longo da história, os indígenas foram marginalizados, estigmatizados e forçados a se adaptar em padrões de vida, que não condizem com sua realidade. O preconceito, o abandono do Estado e a pressão para “se encaixar”, têm levado muitos indígenas a se afastarem de suas raízes, para serem aceitos em um mundo que, em geral, não os acolhe como são.

No entanto, é um erro afirmar que os povos indígenas, estão simplesmente “desistindo” de sua identidade. O que ocorre, na verdade, é uma tentativa de sobreviver e resistir em meio a um sistema que frequentemente lhes é hostil. Adotar tecnologias ou incorporar certos hábitos, não significa necessariamente rejeitar a cultura ancestral, mas sim buscar formas de diálogo, visibilidade e afirmação dentro da sociedade contemporânea. Muitos indígenas, têm usado essas mesmas ferramentas, para lutar por seus direitos, preservar suas línguas e denunciar injustiças.

Portanto, dizer que o “índio” não quer mais ser “índio”, é uma simplificação perigosa. O que está em jogo não é a negação da identidade, mas sim a adaptação em meio à exclusão. É fundamental que a sociedade brasileira compreenda essa dinâmica, respeite a autonomia dos povos indígenas e contribua, para que eles tenham o direito de existir como quiserem — com suas tradições, mas também com a liberdade de escolher como viver no presente.

*JOTA JOTA é formado em comunicação social com ênfase em jornalismo, pela Universidade de Cuiabá em 2016

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