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Opinião Terça-feira, 27 de Maio de 2025, 06:00 - A | A

Terça-feira, 27 de Maio de 2025, 06h:00 - A | A

WILSON PEDROSO

A estratégia política por trás do recuo do ministro da Fazenda

Wilson Pedroso*

Na tarde da última quinta-feira (22), o ministro Fernando Haddad anunciou um pacote de mudanças no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que deixará o crédito mais caro para pessoas jurídicas a partir de 1 de julho. As medidas afetariam operações internacionais. Obviamente, o mercado reagiu e, em poucas horas, o ministro cedeu à pressão, tendo de vir a público anunciar um recuo. 

Foi assim que Fernando Haddad, desmoralizado, protagonizou um dos episódios mais vexatórios da política econômica do atual governo. 

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Quando era governador de São Paulo, o atual vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, gostava de dizer que “não tem compromisso com o erro” e que “não se faz política olhando para o retrovisor”. Mas há erros e erros. Algumas falhas respigam sobre a credibilidade de quem as comete. O problema é quando elas afetam a imagem de terceiros.

Segundo noticiou a imprensa, Haddad foi pressionado pelo setor financeiro sob a alegação de que a medida tinha “problemas técnicos” e que poderia ser interpretada como “controle de capitais”. Embora tenha recebido uma avalanche de críticas a respeito da falta de diálogo e de entendimento sobre o comportamento do mercado, a verdade é que não foi esse o fator decisivo para a decisão de recuar no anúncio. O peso veio do Planalto.

Às vésperas de um ano eleitoral e com índices ruins de aprovação do Governo, estava claro que o impacto negativo do pacote de Haddad poderia causar enorme desgaste político para o presidente Lula. Era preciso estancar o sangue rapidamente e foi assim que o ministro precisou fazer o segundo anúncio ainda tarde da noite. Não, ele não recebeu o benefício de esperar sequer até o dia seguinte. 

O pacote com o aumento do IOF foi anunciado com o objetivo de ajudar o Governo a fechar as contas do ano. Os pontos de recuo envolvem investimentos de pessoas físicas no exterior, que teriam a alíquota ampliada de 1,1%, para 3,5%, e as transferências para aplicações de fundos nacionais no exterior, que não eram taxadas pelo IOF e passariam a ter alíquota de 3,5%. Dessa forma, o que era para ser apoio, virou crise.

E ainda há mais um aspecto importante a ser observado em todo esse imbróglio. Conforme informado pelo Governo, as novas medidas valem apenas para empresas, mas na prática o reflexo sempre tem um efeito dominó. O empresariado não vai absorver o prejuízo e, no final, quem vai pagar essa conta é a classe trabalhadora. E Lula sabe disso.

Fica claro, portanto, que não se trata meramente de gestão da economia. Esse episódio nos ensina muito sobre estratégia política e eleitoral.

 

*Wilson Pedroso é analista político e consultor eleitoral com MBA nas áreas de Gestão e Marketing

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