No dia em que o bilionário Elon Musk dará início a um processo de demissão em massa no Twitter, funcionários cortados da empresa usaram o LinkedIn para lamentar a saída e buscar por novas oportunidades profissionais.
Uma semana depois de comprar o Twitter, o novo dono deverá cortar cerca de 7,5 mil funcionários, a metade do que tem a rede social, para reduzir até US$ 1 bilhão em custos. Antes disso, logo no dia em que a compra por Musk foi confirmada, ele demitiu os principais executivos da rede social, inclusive o presidente-executivo, com quem já tinha batido boca na internet.
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"Começaremos o difícil processo de reduzir nosso quadro global nesta sexta-feira", anunciou o Twitter a seus funcionários na última quinta, em um e-mail ao qual a agência France Presse teve acesso.
Os demitidos seriam comunicados a partir das 13h, mas, desde o início da manhã desta sexta, vêm relatando que tiveram a entrada nos escritórios, inclusive no Brasil, bloqueada, assim como os acessos aos sistemas da empresa.
Uma brasileira que trabalha na plataforma descreveu a experiência ao g1.
"Eu fui pega de surpresa mesmo, voltei ontem do feriado, entrei na reunião de equipe e o clima era total de luto."
A ex-tweep (modo ao qual os funcionários do Twitter se identificam) não quis se identificar por medo de represálias. Segundo ela, os funcionários descobriram as mudanças implementadas por Musk acompanhando os noticiários.
"Basicamente tudo que a gente sabia sobre a gestão do Elon vinha primeiro dos jornais e depois de muito tempo em um comunicado interno. Era até engraçado perguntarem para gente o que estava acontecendo, porque era muito mais provável que os jornalistas de fora descobririam antes da gente".
No seu último dia da empresa, a brasileira disse que, às 21h da quinta-feira (3), recebeu um e-mail notificando de que haveria demissões e que os funcionários escolhidos seriam avisados.
Por volta da meia-noite, ela percebeu que tinha perdido o acesso ao e-mail da empresa e às 4h48 recebeu um e-mail reforçando as demissões.
Outra funcionária do Twitter Brasil, que não quer se identificar, diz que recebeu um comunicado em seu e-mail pessoal informando que seus acessos estavam bloqueados (leia o comunicado ao final desta reportagem). Ao g1, ela contou que o clima na sede brasileira mudou após o processo de Musk.
"Na época do Jack e do Parag Agrawal, ex-presidentes do Twitter, a gente tinha muita proximidade com a direção global. Isso mudou depois do processo do Musk. Ficamos muito distantes e sem informações. Muitas pessoas do Twitter Brasil pediram demissão por essa incerteza".
O g1 entrou em contato com o Twitter, mas a empresa não enviou um posicionamento até a última atualização desta reportagem.
Musk também não se manifestou no Twitter sobre o assunto. Em seu post mais recente, no começo da tarde, criticou ativistas que, segundo ele, têm pressionado anunciantes e feito a receita da rede social cair. "Estão tentando destruir a liberdade de expressão na América", afirmou.
Nesta sexta, ele foi fotografado em Nova Iorque, durante uma conferência de investimentos. A sede do Twitter fica em São Francisco, Califórnia.
'Time dos sonhos'
Funcionários de outros países se manifestaram nas redes sociais sobre as demissões.
"É possível um coração estar partido e pleno ao mesmo tempo?", disse em mensagem no LinkedIn o vice-presidente de diversidade, igualdade, inclusão e acessibilidade, James Loduca.
"Foi um privilégio liderar um time dos sonhos no Twitter, trabalhando juntos para criar a companhia de tecnologia mais inclusiva, diversa, igualitária e acessível do mundo. Estou agradecido para sempre. Tweeps, criamos um relâmpago em uma garrafa - nada, nem ninguém mudará isso", publicou.
Alguns foram mais diretos na busca de novos empregos:
"Encerrando minha jornada de oito anos e meio no Twitter. Enquanto imigrante trabalhando nos Estados Unidos, não tenho tempo para olhar para trás. Estou procurando um novo papel com urgência e agradeceria se pudesse me ajudar. Agradeço antecipadamente por qualquer conexão, conselho ou oportunidade que possa oferecer", afirmou o especialista em Marketing, Nick Watanabe.
A estrategista criativa Janeth Vázquez Angulo também foi objetiva:
"Quero anunciar que ofereço meus serviços no LinkedIn. Dê uma olhada na minha página de serviços de Estratégia de Conteúdo, Marketing de Conteúdo, Marketing de Marca, Marketing de Redes Sociais, Marketing Digital e Publicidade".
Outros criticaram o corte de funcionários por meio de metáforas.
"Muita coisa acontecendo no Twitter. São negócios – entendemos isso. O local de trabalho pode ser assim: impessoal, seco, frio. Mas às vezes machuca. Às vezes você se sente apenas mais uma engrenagem na máquina corporativa que faz dinheiro. As coisas são o que são. Mas acho que ninguém se sente animado em ser apenas mais uma engrenagem", comparou o designer de produto, Phillip Lee.
Ele continua:
"Mas às vezes, o local de trabalho pode ser diferente. Às vezes pode se parecer com uma festa, com jantar ao lado de velhos amigos, os quais você não vê há muito tempo. Brindando com cada um deles por sobreviver por mais um dia e os abraçando após uma longa noite. Adoro ver cada um dos Tweeps ajudando uns aos outros dentro do Twitter. Às vezes, crises podem mostrar o melhor de cada um de nós. O lado mais humano de cada um. Obrigado pelo amor".
Profissionais da empresa, ex-funcionários e recrutadores externos também manifestaram solidariedade aos colaboradores demitidos.
Alguns se colocaram à disposição para fazer recomendações. "Há uma incrível rede de talentosos ex-Tweeps prontos", disse Chad Tully, um dos diretores do Twitter.
Aviso por e-mail
O Twitter foi comprado por US$ 44 bilhões (R$ 235 bilhões), segundo a agência Reuters, após seis meses de negociações bastante conturbadas.
Quem for demitido deverá receber o aviso pelo e-mail pessoal. Os que continuarem na empresa serão notificados pelo e-mail de trabalho.
Para garantir a segurança dos funcionários e dos dados e sistemas da empresa, os escritórios do Twitter foram fechados temporariamente e as credenciais de acesso foram suspensas.
Um grupo de funcionários entrou com uma ação coletiva contra a empresa nesta quinta-feira (3), alegando terem começado um processo de demissão em massa sem o aviso prévio de 60 dias, violando leis trabalhistas federais e do Estado da Califórnia.
Na semana passada, Musk já havia demitido funcionários do alto escalão, como o diretor-executivo -- cargo que ele mesmo assumiu por enquanto -- e o diretor-financeiro.
O bilionário está redesenhando a estrutura empresa. Ele sustenta que vai defender a liberdade de expressão na rede social, mas ainda não deu muitos detalhes sobre como fará isso.
Leia o comunicado enviado aos funcionários na madrugada desta sexta:
"Olá,
Conforme compartilhado mais cedo hoje, o Twitter está realizando uma redução da força de trabalho para ajudar a melhorar a saúde da empresa. Essas decisões nunca são fáceis e é com pesar que escrevemos para informar que sua função no Twitter foi identificada como potencialmente impactada ou em risco de redundância.
Os próximos passos dependerão do país em que você mora e compartilharemos mais informações com você o mais rápido possível.
Para proteger as informações confidenciais do Twitter e os dados do usuário, suspendemos seu acesso aos seus sistemas. No entanto, para evitar dúvidas, esta suspensão não significa que seu emprego foi rescindido. Continue a cumprir todas as políticas da empresa, incluindo o Manual do Funcionário e o Código de Conduta.
É vital que tenhamos suas informações de contato pessoais atuais para que possamos consultá-lo. Envie um e-mail .... com qualquer dúvida ou se precisar nos atualizar sobre suas informações pessoais.
Obrigado."