A escalada nos preços de produtos essenciais e a persistente insegurança econômica seguem minando a disposição de compra dos cuiabanos. De acordo com levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) em Cuiabá caiu 2,8% em maio, chegando a 104,2 pontos. Esse é o menor nível registrado desde outubro de 2023 (102,5 pontos), confirmando um ciclo de retração que já dura cinco meses consecutivos.
Embora o índice ainda se mantenha acima da zona de insatisfação (abaixo de 100 pontos), o movimento de queda é sintomático. O maior recuo foi entre as famílias que recebem até 10 salários mínimos, com retração de 3,2%, enquanto entre os mais ricos a queda foi de 0,9%. Os indicadores mais afetados foram Compra a Prazo (-7%) e Perspectiva Profissional (-6,6%), refletindo receios com endividamento e estabilidade no mercado de trabalho.
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Para o presidente da Fecomércio-MT, José Wenceslau de Souza Júnior, a retração reflete “uma incerteza econômica incessante por parte dos consumidores”, mesmo com relatos de melhora na renda de parte das famílias.
“O brasileiro está mais cauteloso. Está sentindo no bolso o impacto da inflação, especialmente em produtos essenciais como alimentos e remédios”, explica.
Os dados da inflação oficial ajudam a entender essa cautela. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo IBGE, fechou abril com alta de 0,43%, acumulando 5,53% nos últimos 12 meses — acima do teto da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional, que é de 4,5%. Ou seja, o Brasil caminha para o quinto mês seguido com a inflação fora do intervalo de tolerância oficial.
Os maiores vilões foram os alimentos e os medicamentos. Só o grupo alimentação e bebidas subiu 0,82%, com destaque para a batata inglesa (18,29%) e o tomate (14,32%). Já no grupo saúde, a alta de 1,18% foi puxada pelo reajuste de até 5,09% nos preços de medicamentos autorizado no fim de março.
O impacto sobre as famílias de menor renda é ainda maior. Segundo o IBGE, o INPC — índice que mede a inflação para quem ganha até cinco salários mínimos — subiu 0,48% em abril. Como alimentos têm peso maior nesse índice, a pressão sobre o orçamento das famílias mais vulneráveis é ainda mais significativa.
Mesmo com uma leve queda nos preços de transportes (-0,38%), influenciada pela redução nas passagens aéreas e nos combustíveis, o índice de difusão — que mede quantos itens ficaram mais caros — chegou a 67% no IPCA. Isso significa que o aumento de preços não é pontual, mas espalhado por grande parte da economia.
Outro ponto que reforça o cenário de pessimismo é a desaceleração do setor de serviços, um dos principais termômetros para o Banco Central na definição da taxa básica de juros (Selic). A inflação dos serviços caiu de 0,62% em março para 0,20% em abril, indicando um desaquecimento da atividade econômica.
A combinação de inflação elevada, incerteza sobre o futuro e aperto no crédito faz com que o consumidor adie decisões de compra, especialmente de bens duráveis. Para o comércio, o desafio será manter as vendas em um ambiente de demanda retraída.
“O momento exige estratégias criativas, promoções agressivas e, principalmente, confiança no atendimento ao cliente”, conclui Wenceslau.
Enquanto o cenário não melhora, a expectativa é de que os consumidores continuem cautelosos, pesando cada gasto no orçamento doméstico e priorizando necessidades básicas. Em outras palavras, a recuperação do consumo, que impulsiona o crescimento do comércio e dos serviços, segue em compasso de espera.