O custo com alimentação básica em Cuiabá consumiu 55% do salário das famílias com renda de apenas um salário mínimo (R$ 1.045) no mês de outubro. Levantamento feito Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) identificou que a cesta básica na capital mato-grossense custou R$ 575,10 em outubro, ao sofrer uma valorização de 5,2% ante o mês de setembro (R$ 546,70). O valor já bateu o recorde dos últimos 12 meses e economistas alertam que a tendência é de que haja mais aumentos.
Em Cuiabá, a cesta básica ficou R$ 119,60 (ou 26,2%) mais cara em outubro, quando comparada ao mesmo período de 2019.
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Naquela época, o trabalhador pagava R$ 455,50 pelo conjunto dos 13 itens tidos como essenciais e suas porções necessárias para uma família de dois adultos e duas crianças.
“O aumento dos preços dos itens de alimentação causa essa distorção. Não é normal a despesa com alimentação representar 55% do consumo de uma família. O padrão é 30%. A elevação da inflação da alimentação afeta mais as famílias de renda abaixo de três salários mínimos”, pontua o economista Vivaldo Lopes.
Já para a economista Thais Sampaio, essa distorção entre salário mínimo e o preço da alimentação básica poderia ser minimizada com a conclusão da reforma tributária.
“A reforma tributária, que se arrasta ao longo deste ano, seria uma mudança que daria um suporte para que as famílias – que recebem até um salário mínimo – tivessem acesso à cesta básica a preço sem tributação. Isso é o mínimo que o governo deveria fazer, que é garantir a alimentação dessa população mais vulnerável; mas não vemos contrapartida do governo com relação a isso”, afirma Thais.
A desoneração da cesta básica para as famílias mais vulneráveis exigiria um esforço maior para garantia e controle desse direito. “Sim, é complicado fazer o controle, ainda não sabemos como seria, mas é fundamental que se enxergue essa relação da cesta básica com o salário mínimo”, reforça a economista.
Assim como no restante do país, os alimentos que mais pesaram na balança em outubro foram: o tomate, que teve a maior alta (26,7%), o arroz (24,6%) e a batata (20,9%). O óleo e a banana também registraram valorização, sendo elas de 17,5% e 8,4%, respectivamente. Os dados são do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Somente dois alimentos tiveram pequenos decréscimo nos preços: o pão francês (-2,2%) e o açúcar (-0,1%).
Veja os itens da cesta básica: Açúcar 3kg; Arroz 3 kg; Banana 90 uni; Batata 6kg; Café Pó 600g; Carne 6,6 kg; Farinha 1,5kg; Feijão 4,5kg; Leite 7,5 L; Manteiga 750g; Óleo 900ml; Pão Francês 6kg e Tomate 9kg.
Preços continuarão subindo, aponta economista
Variações pontuais no preço de um item são comuns ao longo do ano. Isso se deve à sazonalidade de cada alimento. No caso do tomate, por exemplo, a alta registrada em Cuiabá ocorreu também em outras 14 capitais brasileiras, com destaque para Salvador (32,12%) e Porto Alegre (29,11%) – os dados dessas outras regiões foram compilados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A justificativa do incremento no preço do tomate no varejo é em razão da menor disponibilidade do fruto no mercado.
No entanto, o que ocorre com o arroz neste ano é resultado da combinação de vários fatores externos. A inflação de alimentos como o arroz ocorre devido à pandemia e à desvalorização do real ante o dólar, mas também é afetada pelos desgastes nas relações políticas entre Brasil, China e Estados Unidos.
“No geral, essa alta é por causa da covid-19. Observamos muitos países ou mercados impondo restrições com relação à exportação de grãos, com criação de taxas para desestimulá-la. Esse não é o caso do Brasil. Com o arroz, por exemplo, países asiáticos criaram essas tarifas para barrar importação e o que tínhamos de produção de arroz [no Brasil] foi exportado para China e outros países, pois eram contratos já fechados. Dessa forma, faltou arroz no mercado interno e aumentou os preços para o consumidor daqui. Isso vai acontecer em muitos países, em especial os europeus, que terão problemas de abastecimentos e tentarão levar produtos daqui para lá”, explica Thais.
A corrida por abastecimento, por enquanto, não acontece do Brasil, mas a venda dos produtos nacionais para outros países pressiona os custos com alimentação, principalmente para as famílias mais vulneráveis.
“Por enquanto, não estamos com dificuldades de abastecimento, porém o cenário está muito favorável para a exportação, seja pelo preço do dólar ou pelo mercado, agora mais estimulado para o produtor trabalhar para a exportação. Por outro lado, está caro produzir aqui, porque temos que importar insumos e matéria-prima, que estão mais caras. O encarecimento ocorre por questões políticas com relação a negociações entre o país, a China e os EUA”, aponta a economista Thais Sampaio.
Com esse cenário de instabilidade, as projeções para os próximos meses são de novos aumentos de custos com alimentos. “É uma série de fatores externos que, infelizmente, nos leva a ter um preço dos produtos nas prateleiras de alimentos mais caros e a tendência é que continue subindo. Não sabemos até onde, mas a pandemia tem forte influência com relação a esse preço”, reforça Thais.