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Cidades Quinta-feira, 16 de Dezembro de 2021, 18:30 - A | A

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RETRATO DA FOME

VÍDEO: Pessoas dormem ao relento para garantir ossinhos de boi em Cuiabá

Brenda Closs

Estagiária | Estadão Mato Grosso

A fila dos ossinhos voltou aos noticiários novamente, após uma mulher gravar vídeo com várias pessoas dormindo em frente ao açougue Atacadão da Carne, localizado no bairro CPA 2, na madrugada desta quinta-feira (16), para garantir que não ficarão sem o alimento faltando pouco mais de uma semana para o Natal.

Nas imagens que circulam nas redes sociais, a moça, com a voz embargada de emoção, questiona a ausência do Poder Público diante a triste situação. “Eu não sei se isso aqui toca o coração de vocês. O povo está dormindo para pegar osso. Cadê as autoridades desse estado, desse país? Que vergonha”, desabafou.

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Durante a madrugada, cada vez mais pessoas, de toda capital chegavam ao local. A fila que se formava era, em sua maioria, composta por mulheres chefes de famílias e idosos, que usam os ossos de boi como única fonte de proteína para se alimentar.

A desigualdade social já era sentida na pele por essas famílias, mas foi acentuada agora, com a pandemia de covid-19. A crise sanitária global fechou inúmeras empresas e deixou muitas pessoas desempregadas. Colocar o alimento na mesa deixou de ser algo habitual e passou a ser um desafio diário.

O idoso Alonso Egydio, de 63 anos, perdeu a mulher para o câncer há dois anos e quatro meses destacou que toda vez que vai ao açougue, percebe que é cada vez maior o número de pessoas que recorrem à fila para pegar a doação. “De primeiro, era uma filinha. Agora aumentou bastante. O pessoal tá precisando”, disse o idoso, em entrevista ao site Olhar Direto.

A proprietária do Atacadão da Carne, Samara Rodrigues, contou que nos dias que acontecem as doações (segunda, quarta e sexta) ela costuma acordar 4h:30 da manhã para organizar as ações. Ela disse ainda que recebeu o vídeo das pessoas ‘guardando lugar’ na fila com extrema tristeza e fez um apelo para que eles não durmam lá, ao relento.

“Ontem mandaram foto para mim e eu entrei em desespero. Essa obra para a gente se resume a gratidão. Nunca passei fome, mas já passamos muitas dificuldades. Eu só tenho gratidão ao Senhor, porque passamos por lutas nessa pandemia, em que vários colegas fecharam seus açougues. Nós não abaixamos nossas portas em nenhum minuto”, afirmou.

Gilberto Leite | Estadão Mato Grosso

FILA DOS OSSINHOS SACOLÃO POBREZA  (13).jpg

 

A fila dos ossinhos, como ficou conhecida nacionalmente, ganhou repercussão no final de julho após o Fantástico, da Rede Globo, fazer uma reportagem detalhando o retrato da fome vivido por essas famílias. Além disso, o vereador por São Paulo Tammy Miranda lamentou em suas redes sociais o fato do Brasil ser um dos países mais ricos e mesmo assim a população passar fome, citando a fila como exemplo.

Ao longo do dia, cerca de 1.000 quilos de ossos são doados. Por mês são oito toneladas de ossos. Cada sacola de doação costuma conter cerca de 3 quilos. Samara pontua que não gosta de ver ninguém ir embora sem ser atendido, mas que às vezes isso caba ocorrendo pela alta procura.

Nesta quinta-feira (16), por exemplo, a fila cruzava duas quadras do açougue e as pessoas tiveram que pegar senha para retornar no próximo sábado (18) para buscar alimentos. No final de toda ação, os colaboradores voluntários fazem uma oração, como forma de agradecimento.

*Estagiária sob a supervisão do editor Gabriel Soares

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