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Cidades Quinta-feira, 08 de Maio de 2025, 13:19 - A | A

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VIVENCIANDO A CIDADE

VÍDEO: Ambulantes da 13 de Junho temem remoção e cobram solução justa da Prefeitura

Comerciantes informais têm 30 dias para desocupar locais

Maiara Max

Repórter | Estadão Mato Grosso

Vendedores ambulantes que atuam na Rua 13 de Junho, no Centro de Cuiabá, têm enfrentado dias de incerteza após serem notificados pela Prefeitura para desocupar as calçadas em um prazo de até 30 dias. A ação faz parte da operação “Ambulantes em Ordem”, que visa o ordenamento do comércio informal nas vias públicas da capital. Mas, para os trabalhadores, muitos dos quais dependem exclusivamente da renda gerada nas ruas, a medida ameaça diretamente sua sobrevivência.

A equipe de reportagem esteve no local nesta quarta-feira, 7 de maio, e conversou com Jean Bertho Joissaint, haitiano, que trabalha há cerca de quatro anos na região. Ele contou que vende produtos alternativos, mais acessíveis que os encontrados em lojas tradicionais, pensando em atender a população que não pode pagar mais caro. “Tem pessoa que precisa de produto de segunda linha. A gente traz isso aqui para o povo”, afirmou.

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Segundo ele, a notificação foi recebida sem qualquer orientação concreta sobre o futuro. “A gente está assustado. [Nós] ficamos preocupados porque nos tiram daqui, mas não falam para onde vai. A conta não vai esperar, a criança também não”, desabafa. Jean diz estar disposto a se regularizar, pagar taxas acessíveis e trabalhar em um ponto fixo. “Se quiser ajudar, tem que ajudar de verdade. Não adianta tirar e colocar em lugar morto onde ninguém vende.”

A principal proposta da Prefeitura é remanejar os ambulantes para o Shopping Orla temporariamente por três meses. Outra opção dada aos ambulantes seria migrar para uma rua atrás do Ganha Tempo da Praça Ipiranga ou permitir a permanência na 13 de Junho, desde que ocupem vagas de estacionamento — o que depende de tratativas com a empresa CS Mobi, que administra o estacionamento rotativo.

Jean, no entanto, afirma que a opção do Ganha Tempo já foi testada e não funcionou. “Lá não dá certo. Dizem que vai caber 36 pessoas, divididas em grupos. Mas feira tem que ser unida. Se colocar nós separados, não vende. Se não vender, eu vou pegar meu carrinho e voltar para a 13. Porque eu tenho que trabalhar, minha família precisa comer.”

Histórico de fracassos

Essa não é a primeira tentativa de realocação. Em 2004 ambulantes já haviam sido levados para a Travessa Coronel Poupino, mas a mudança foi provisória e sem sucesso. “Na época, um dia de venda na 13 de Junho valia por uma semana. Quando fui para a Travessa, gastei R$ 10 mil numa barraca e perdi tudo três vezes por alagamento”, relatou outro ambulante que não quis ser identificado.

A experiência deixou marcas. “Fizeram estrutura depois, mas só cabia 45 pessoas. Hoje, tem muito mais gente. A venda caiu, tem muita concorrência, mas a gente sobrevive. O poder de compra caiu, o governo não ajuda”, acrescentou.

O que diz a Prefeitura

A Secretaria Municipal de Ordem Pública afirma que a ação foi motivada por uma recomendação do Ministério Público do Estado (MPMT), que cobra a desobstrução das calçadas para garantir o direito de ir e vir dos pedestres. A gestão garante que não haverá apreensão de mercadorias e que o objetivo é oferecer alternativas viáveis para a regularização da atividade.

“Estamos verificando a regularidade desses estabelecimentos. Os que não estiverem regulares, estamos notificando para que se adequem. Ninguém será expulso”, disse a secretária Juliana Palhares.

Ela explicou que a proposta de realocação ainda está em avaliação e que outras possibilidades, como uma feira padronizada atrás do Ganha Tempo, estão sendo estudadas. “Permanecer na 13 de Junho é um desejo deles, mas não nas calçadas. A proposta mais viável seria a Travessa, que tem mais aceitação.”

O prefeito Abilio Brunini sugeriu ainda o uso temporário de bancas no Shopping Orla por três meses, enquanto uma nova estrutura é organizada. Ele também pediu a participação da população na discussão. “A gente precisa que a população nos ajude a achar qual é a melhor solução”, disse.

“Não queremos privilégio”

Para os ambulantes, mais do que um ponto de venda, a permanência na 13 de Junho é questão de dignidade e sobrevivência. “Não queremos ficar no sol, na poeira, na chuva. Mas é o que temos. Se quiser ajudar de verdade, que ofereçam um lugar que funcione. Só queremos trabalhar e pagar nossas contas como qualquer cidadão”, concluiu Jean.

Veja vídeo:

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