Em meio a uma rotina de medo e violência, uma mãe encontrou nos filhos a força que precisava para romper o ciclo de agressões e reescrever sua história. Neste Dia das Mães, em homenagem a tantas mulheres que se desafiam diariamente e carregam histórias de superação, a equipe de reportagem conversou com M.A.P.M., de 37 anos, que preferiu não ser identificada. Mãe de duas crianças, ela viveu por 10 anos presa em um relacionamento abusivo, marcado por violência física, ameaças e humilhações.
"Eu me anulei por completo. Achava que estava protegendo meus filhos, mas estava apenas prolongando a dor", relembra. A decisão de sair veio depois de mais um episódio de violência, presenciado pelas crianças. "Naquele dia, entendi que era hora de mudar. Eu precisava sobreviver, por eles e por mim, uma hora estava vendo ele me matar e chorar no meu caixão", desabafou.
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Mais do que qualquer agressão física, foi uma cena com os filhos que a marcou profundamente e virou a chave para sua decisão. "Um dia, peguei os dois, ainda pequenos, escrevendo uma cartinha para Deus. Nela, pediam que o pai perdesse um pouco da força, para que, quando ele batesse em mim, não doesse tanto. Aquilo partiu meu coração. Senti uma dor impossível de descrever. E prometi a mim mesma que eles nunca mais presenciariam aquilo."
Foi então que, com apoio de amigas e familiares, que ela procurou a Rede de Proteção à Mulher de sua cidade, onde recebeu apoio psicológico, jurídico e orientação para reconstruir sua vida.
Hoje, residindo em Cuiabá, longe do agressor e em segurança com os filhos, ela trabalha como cabeleireira e sonha em abrir seu próprio salão. "Ainda tenho medo às vezes, mas me sinto viva de novo. E isso é tudo que eu quero ensinar para os meus filhos: que a gente merece viver sem medo e com dignidade."
Casos como o de M.A.P.M. não são isolados. Dados do Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (Raseam) 2025, lançado pelo Ministério das Mulheres em março, apontam que, em 2024, foram registrados 1.450 feminicídios e 2.485 homicídios dolosos (com a intenção de matar) de mulheres e lesões corporais seguidas de morte.
O ambiente que deveria ser o mais seguro para as mulheres — a própria casa — foi, na maioria das vezes, o mais perigoso. Segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinam/MS), em 2023, 71,6% dos casos de violência contra mulheres ocorreram dentro da residência da vítima. E o agressor, em 76,6% dos registros, era do sexo masculino, muitas vezes alguém próximo, como companheiro, ex-parceiro ou familiar.
Embora muitas mulheres ainda não denunciem, histórias como a da vítima mostram que é possível, sim, quebrar o ciclo da violência doméstica, enfrentando o machismo estrutural, rompendo o silêncio e construindo um caminho de esperança, com a certeza de que há apoio em cada passo para uma nova história.