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Cidades Domingo, 15 de Agosto de 2021, 14:00 - A | A

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MEU CORPO MINHAS REGRAS

"Ele se masturbou olhando pra mim", relata vítima de assédio em coletivo

Câmeras de segurança instaladas em novos ônibus da capital pretendem inibir ações de assediadores

Brenda Closs

Estagiária | Estadão Mato Grosso

Mak Lucia

Repórter | Estadão Mato Grosso

“Entrou um cara no ônibus, sentou do meu lado e eu nem percebi que ele estava se masturbando, enquanto olhava pra mim e ria”. Esse é o relato de Maria* sobre o episódio que marcou sua vida há cinco anos. Ela, assim como todas as mulheres que dependem do transporte coletivo em Cuiabá, não deveriam, mas podem viver esse tipo de situação no momento em que saem de seus lares para trabalhar, estudar ou apenas passear.

No intuito de mudar essa dura realidade, os 144 novos ônibus entregues a população cuiabana, possuem além de ar-condicionado e wi-fi, câmeras de segurança que irão filmar o interior dos ônibus. Essa ferramenta pode inibir assediadores de cometerem assédios sexuais contra mulheres e crianças dentro do transporte urbano.

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Todas as imagens gravadas ficarão dentro de uma central de vigilância da Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob), como ocorre com as câmeras de segurança da cidade. “Uma mulher que se sentir assediada e que precise de uma prova vai poder fazer o boletim de ocorrências e solicitar essas imagens, seja por ela ou pela polícia. Até por que imagens a gente só pode entregar para a pessoa ou de forma judicial via boletim de ocorrência”, informou Luciana Zamproni, secretaria da Mulher de Cuiabá.

Além das filmagens, as vítimas podem contar com o respaldo da lei municipal 6643/2021, que considera crime todo comportamento indesejado de caráter sexual, com o objetivo ou efeito de perturbar, ou constranger a pessoa, afetar a sua dignidade ou lhe criar um ambiente intimidativo, hostil, degradante, humilhante ou desestabilizador.

Além dos ônibus se tornarem ambientes mais seguros, a mulher que sofrer esse tipo de violência no coletivo poderá contar com a ajuda do motorista. Todos os profissionais receberam uma capacitação para saber como agir nessas situações.

“A vítima pode procurar o motorista. Ele é orientado a para o ônibus e ligar para o 190. E no caso do assédio em que a vítima desce, a orientação que a gente dá é pegar a linha do ônibus, o horário e fazer o boletim de ocorrência na delegacia para que possa ser feito as diligências e encontrar esse assediador”, explica Zamproni.

Apesar de toda essa assistência, a estudante Letícia Vanni, 20 anos, diz ter um pé atrás com as medidas de segurança. “Acredito que possa sim ajudar, mas não depende só da gente. Nós mulheres somos muito desacreditadas com a lei, porque acontece algo e ninguém nunca faz nada. Acredito que vá ajudar, mas não sei se de fato vai acontecer”, desabafou.

Por outro lado, há passageiras que estão confiantes com a chegada dessas medidas. É o caso da assistente administrativa Mayara Sousa, que sai tarde da faculdade e usa a linha 615 Altos do Parque, para chegar em casa. “Me sinto bem mais protegida porque fora o constrangimento que nós mulheres passamos nessa situação, a gente agora tem como identificar o autor do crime. Nosso corpo, nossas regras”, afirma.

Luciene Cruz de 34 anos, também está otimista em relação às câmeras. “Eu creio que sim, ficará bem melhor e vamos nos sentir menos preocupada. Tem gente que sai de madrugada para trabalhar. Minha sobrinha mesmo chegou a descer no ponto e um homem correr atrás dela. A sorte dela foi que tinha outra pessoa em um ponto que a ajudou”, relata a auxiliar de limpeza.

APOIO PSICOLÓGICO

Maria* conta que se lembra até hoje do rosto de seu assediador. “Foi horrível e por mais que isso tenha acontecido há quase cinco anos, eu me lembro da face do sujeito até hoje. Dá uma sensação de pânico. Hoje eu ando em qualquer lugar de ônibus, mas sempre falando com alguém no celular, porque tenho medo”.

Leticia foi assediada aos 14 anos em plena luz do dia e ficou tão traumatizada que não pega mais ônibus à noite. “O cara, que já estava assediando outras pessoas, chegou atrás de mim e passou a mão na minha bunda. Eu ficava me esquivando, todo mundo viu a cena, mas ninguém fez nada. A gente fica traumatizada. Hoje se eu vejo que é um homem atrás de mim, eu já vou para longe”.

Sabendo que esse tipo de crime faz com que a mulher se sinta acuada e com vergonha, pois, ela pega a mesma rota diariamente, a Prefeitura de Cuiabá, em parceria com a Semob tem feito a campanha “Meu corpo não é corrimão”. A ação tem o objetivo de levar informações para as mulheres sobre que fazer no caso de ser assediada no coletivo.

Um dos apoios oferecidos nesses tipos de casos é o espaço de acolhimento a essas vítimas que fica localizado no Hospital Municipal de Cuiabá, 24 horas. A mulher recebe todo o apoio assistencial e jurídico. Além disso, ela fará todo o tratamento com um (a) psicológico (a) até receber alta médica.

PARADA SEGURA
Além disso, a lei 5.944/2015 batiza como Parada Segura, possibilita que a mulher, após as 21h, opte pelo embarque ou desembarque com maior segurança podendo escolher um local de parada dentro da rota, independente se for ponto de ônibus ou não.

*Nome fictício usado para preservar a identidade da vítima
**Estagiária sob a orientação da editora Cátia Alves

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