No dia do Pantanal, esta sexta-feira (12), o g1 conversou com cientistas que atuam de forma extensiva no bioma para entender qual o futuro que se pode esperar para a maior planície alagável do mundo. Para os cientistas, se o planeta aquecer mais, o desmatamento na Amazônia continuar de forma desenfreada e o Cerrado continuar a ser explorado da maneira atual, o futuro do Pantanal será de seca.
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O atual cenário do Pantanal, mesmo com o verde brotando, mostra: chuvas concentradas em apenas um momento, períodos de seca mais extensos, fauna e flora comprometidas, além de avanço no desmatamento.
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O coordenador técnico do MapBiomas, Marcos Rosa, explica que a sobrevivência do Pantanal depende diretamente de outros biomas: Amazônico e Cerrado.
"No Pantanal os alagamentos duravam até seis meses na década de 80 e 90, atualmente é muito menor, alaga de dois a três meses. Essa mudança da quantidade de água depende de fatores externos, por exemplo da chuva que vem da Amazônia, a evapotranspiração da floresta é responsável por parte da chuva no Pantanal, no Cerrado e no Sudeste. O ciclo da água do Pantanal também depende das proteções das cabeceiras do Pantanal, que estão no planalto, em área de Cerrado e Amazônia que estão muito impactadas pelas mudanças recentes", alerta Marcos Rosa.
José Marengo, climatologista, meteorologista e coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), comenta que em um cenário mais extremo, com o aumento de 4°C na temperatura do Planeta, a seca do Pantanal será mais que iminente. "Realmente se a situação que apresentarmos com um planeta mais quente, teremos uma situação de seca no Pantanal".
"Com cenário que basicamente esquece os acordos internacionais, a Amazônia poderia colapsar e parte do Pantanal poderia ser comprometida. Com o colapso na Amazônia, a incidência de chuvas cai no Pantanal. Quando mais rápido aquece, mais teremos a seca nestes cenários extremos", frisa o especialista.
Porém, a população já amarga cenários extremos, de acordo com Marengo. As nuvens de poeira, fogo intenso e períodos de chuva dispersos aumentam os alertas climáticos e ambientais. "Os cenários extremos estão acontecendo. O risco deste aquecimento compromete o Pantanal".
Interdependência
A cheia do Pantanal é ligada de forma direta à conservação dos outros biomas. Marengo explica que o papel da Amazônia na manutenção de chuvas no bioma que cobre parte de Mato Grosso do Sul é fundamental. O especialista comentou que os rios voadores - aqueles que se transportam em longas distâncias - saem do bioma Amazônico e chegam ao Pantanal.
Já a conservação do Cerrado é fundamental para a sobrevivência dos rios pantaneiros. Integralmente, os rios que banham o Pantanal não nascem no próprio bioma, mas sim, em grande parte, no Cerrado, e outra parcela na Amazônia, é o que contextualiza o climatologista.
Rosa, coordenador técnico do MapBiomas, destaca a atenção para a necessidade de conservação das cabeceiras, onde nascem os rios. Em vinte anos o Pantanal teve um aumento de 556 mil hectares nas áreas de pastagem. O especialista diz que grande parte desta pastagem está na área das cabeceiras, o que coloca em perigo os fluxos das bacias hidrográficas.
"O regime de enchente no Pantanal depende muito das cabeceiras que estão na área do Cerrado e na área da Amazônia, essas áreas foram muito degradadas. Neste local você tem ocupações, por exemplo, de soja, de pastagem que vai até a beira do rio. Quando chove, esse sedimento vai para o rio e desce pro Pantanal , isso muda o ciclo dos rios, os ciclos de alagamento, esses rios ficam mais rasos eles mudam de percurso e dai as áreas que alagam com frequência não alagam mais, essas áreas estão sendo limpas, removidas as vegetações e feita as pastagens exóticas".
Mais sobre o futuro do Pantanal
Com a transformação na paisagem pantaneira, Rosa vê que o equilíbrio entre mata nativa e o plantio exótico pode colocar o futuro do bioma em perigo.
"A vegetação nativa está sempre ali em equilíbrio, mesmo que você use o boi nessa vegetação. Agora quando você remove tudo e faz o plantio da exótica, como está sendo feito aproveitando a seca, o equilíbrio natural é perdido. O Pantanal é regulado pelo fluxo de cheia e de seca. Nesses últimos anos, as cheias têm sido, tanto em extensão quanto na duração. Muito proprietários aproveitam essa seca para fazer a conversão das áreas de pasto nativo para pastos plantados com uma vegetação exótica e isso a conservação da biodiversidade e a água no Pantanal", comenta Rosa.
Outro especialista do MapBiomas que acredita no poder do equilíbrio no Pantanal é Eduardo Reis Rosa. Com menos chuva, a terra fica mais exposta, assim levando a uma maior suscetibilidade ao fogo, como Eduardo frisa.
"A chuva que vem da Amazônia já não é a mesma chuva que vinha antes. Já vivemos as mudanças climáticas, não só o Pantanal, mas outros setores, como a agricultura. O homem sente isso. Passou da hora de nos preocuparmos com a questão hídrica. Se aumenta o período de seca, o Pantanal fica mais suscetível ao fogo, e também há reincidência. Se tem mais fogo, temos um ambiente mais estéril. O Pantanal não deve ser caracterizado apenas como bioma, mas como bacia hidrográfica do Alto Paraguai. Se não conservarmos as nascentes, as poucas ou muitas chuvas podem causar estragos, como a própria seca. O ambiente equilibrado que faz a diferença para o Pantanal sobreviver".
As mudanças que o Pantanal vem sofrendo podem demonstrar um futuro não otimista para o bioma. Entre os cientistas escutados, há uma unanimidade: o poder de conservação. "Eu acho que o mais preocupante é a seca. Com a seca temos a grande possibilidade de grandes cheias. Talvez tenha uma enchente não tão renovadora. Vejo um pouco da possibilidade do retorno de nascentes, temos que conservar", detalha Eduardo.
Perda de identidade
O coordenador de projetos da WWF Brasil, Cássio Bernadino, aponta que o Pantanal tem risco de perder aquilo que o caracteriza: a água.
"O Pantanal só é Pantanal por conta da água. Se o Pantanal perde a água, o Pantanal deixa de existir", alerta Bernadino.
Especialistas apontam e os números comprovam que o sistema hídrico do Pantanal tem sido alterado. Para o representante da WWF Brasil, o caminho que está sendo trilhado em relação ao bioma "é que o Pantanal seja cada vez mais seco e pior".
"Isso tudo afeta a vida dos pantaneiros e na nossa população. Aquilo que faz o Pantanal ser Pantanal está deixando que ele exista. Ao pensar a paisagem desta forma, a água que caracteriza o Pantanal. Temos que ter uma visão integrada dos manejos dos recursos. Se o Pantanal não está inundando quanto antes, há mais matéria orgânica que pode gerar fogo", denuncia Bernadino.
Diante disso, para o coordenador de projetos da WWF Brasil, a responsabilidade do que acontece com o Pantanal é "de responsabilidade compartilhada". "O estado tem um papel nisso, a população também. O setor privado tem seu papel ao respeitar as leis e exigir dos seus fornecedores que as leis sejam cumpridas. Nós temos que ir além da lei, temos que ser ambiciosos: cadeias livres de desmatamento e uso de água mais racional, por exemplo. Já para os cidadãos são as decisões políticas e de consumo", finaliza.