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Cidades Sábado, 02 de Outubro de 2021, 08:26 - A | A

Sábado, 02 de Outubro de 2021, 08h:26 - A | A

NOVA CHANCE

Buscando mudança de vida, reeducandos se inscrevem no Enem PPL

Matheus Maurício

Repórter | Estadão Mato Grosso

“A oportunidade que eu vejo no Enem é poder ser inserido no mercado de trabalho novamente, podendo estar se especializando e buscando até mesmo novos nortes. Esse é o meu intuito quando me inscrevi para fazer o exame. Quando a Justiça liberar, pretendo fazer uma especialização, para sair daqui diferente de como entrei”, diz Rafael*, de 44 anos, que se inscreveu para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para Pessoas Privadas de Liberdade (PPL), que será realizado nos dias 11 e 12 de janeiro de 2022.

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A prova é esperada há meses pelo homem, que comenta com a reportagem seus sonhos para pós-Enem.

“As duas oportunidades que estou prevendo agora é Engenharia Civil, porque é um setor que já atuo há muito tempo e queria me especializar e até mesmo tocar meu próprio negócio, e Zootecnia, outra que atuo há muito anos, desde criança. E tenho uma pequena criação de cavalos, a qual gostaria de ser especialista”, conta entusiasmado.

Outro em grande expectativa é Wellington*, 30 anos, que também está detido e cita que sua atual condição não o desanimou e nem fez com que ele considerasse a cela o fim de sua vida. 

“A minha dedicação no meu cotidiano é através de leituras dos materiais didáticos, através dos livros de biologia, livros de física, química, matemática. Como também rascunhos que eu escrevo dos exercícios que eu faço de materiais contidos aqui na unidade”, conta.

Wellington* conta que para ele é extremamente importante planejar a vida pós-prisão e, para isso, ele almeja uma profissão bem concorrida, mas que é um dos seus sonhos: Medicina.

“Nós sabemos que se tirarmos mil pontos na redação, temos mais chances de conquistar uma vaga em alguma faculdade pública ou particular. E é isso que eu quero [medicina]”.

Enem PPL

Assim como a população em geral, aqueles que estão nas penitenciárias de todo o país são autorizadas desde o ano de 2009, a realizar também a prova do Exame Nacional do Ensino Médio. As penitenciárias possuem autonomia para trazer o estudo até estes encarcerados.

As provas para as pessoas privadas de liberdade têm o mesmo nível de dificuldade do Enem regular. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), aponta que a única diferença se mostra apenas na aplicação, que ocorre em unidades prisionais e socioeducativas indicadas pelos órgãos de administração de cada Estado e também pelo Distrito Federal.

Em âmbito estadual, a pessoa que está à frente de todo o estudo dos PPLs é Fabiana Flávia de Magalhães Nascimento, coordenadora do Núcleo de Educação em Prisões.

A ajuda dos profissionais de educação é direcionada tanto para o Enem, como para o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja). No entanto, durante o período da pandemia do novo coronavírus, a forma como os estudos foram realizados, mudou.

“O Enem PPL este ano conta com as atividades de apoio das escolas referência. Cada município tem dado suporte através de apostilas, e dentro das unidades, eles desenvolvem na cela mesmo, um estudo dirigido, por conta da pandemia. Com a exceção da unidade Rondonópolis, que eles intensificaram mais a preparação para o Enem”, destaca.

Segundo a coordenadora, a penitenciária de Rondonópolis vem trazendo bons resultados no que compete à entrada de presos no sistema superior de ensino. Incluindo esta e outras, apenas em 2021, foram colocados 52 PPLs nas faculdades.

Novos rumos

Segundo informações da Secretaria de Estado de Segurança Pública (SESP-MT), no ano passado, em todo Mato Grosso, cerca de 1.665 pessoas foram inscritas no Enem PPL, já este ano, o número caiu para 1.163, apontando uma queda de 30% nos números. Esse resultado não desanimou Fabiana, nem tampouco os que buscam esses novos conhecimentos. Isso porque a entrada na faculdade para eles também são feitas do jeito ‘normal’.

Aos que passam na modalidade EAD, cursam a faculdade na penitenciária. Os que são aprovados para faculdade presencial têm duas opções: ou fazem o uso de tornozeleira eletrônica para ir à instituição ou tem seu regime – dependendo das circunstâncias – alterado para o semiaberto. Em ambas as situações, os reeducandos são monitorados em todo o processo.

Mesmo com a redução no número de inscritos em 2021, a coordenadora avalia como positivo o processo de inscrição, aplicação dos estudos e também a realização da prova nas penitenciárias. A servidora pontua que essa medida traça ‘novos rumos’ na vida dessas pessoas e a todos que estão a sua volta.

“Eu acredito que a educação, ela dá a oportunidade para a pessoa mudar, transformar a própria vida. Quando ela entra no sistema prisional, ela entra sem ter a perspectiva de sair uma pessoa melhor, porque a gente sabe que o tempo faz isso. Mas essas oportunidades de educação, de reinserção através da educação, principalmente pelo Enem, ela além de abarcar uma nova modalidade de ensino [...] faz essas pessoas se tornarem uma pessoa melhor”, conclui.

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