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Brasil Quarta-feira, 27 de Outubro de 2021, 08:48 - A | A

Quarta-feira, 27 de Outubro de 2021, 08h:48 - A | A

ABUSO DE PODER

Mulher tem casa revirada e acusa PMs "Levaram até as carnes"

G1

Eram 9h da manhã da segunda-feira (25) quando a comerciante Tamires Oliveira, de 27 anos, foi avisada por um vizinho de que não deveria voltar para casa. Naquele dia, policiais que ocupavam o Complexo de Israel, na Zona Norte do Rio, entraram na residência dela, em Parada de Lucas, uma das comunidades que fazem parte do complexo de favelas.

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Tamires, que estava no trabalho - um comércio misto de salão de beleza e loja, também na região, atendeu ao pedido do vizinho, mas ficou apreensiva. Só voltou para casa à noite, quando se deparou com o imóvel completamente revirado, com objetos fora do lugar e dando falta de eletrodomésticos, peças de roupas e até alimentos.

"Levaram até as roupas dos meus filhos. O que não levaram, detonaram: tinha urina, fezes. Meu filho, que está na casa de uma tia, só chora. Ele viu como ficou o quarto dele. Minha filha passou a noite toda pedindo para voltar para casa", disse ela ao g1 nesta terça-feira (26).

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Indignada por ter a casa invadida, ela fez uma série de vídeos mostrando a destruição e acusando a polícia dos supostos abusos. Um deles foi postado na noite da segunda-feira (25), ainda sob o impacto de ver o imóvel no estado em que encontrou (veja acima).

"Você não tem noção. As coisas, a gente conquista novamente, mas é pelo trauma, pelo desrespeito. Levaram até as carnes do freezer. Deixaram só as salsichas", afirmou.

Nesta terça-feira (26), ela voltou registrar vídeos da movimentação dos PMs. Numa das gravações, fez uma transmissão ao vivo no Instagram ao se deparar com policiais na residência.

"Resolvi fazer a live porque eles estavam dentro da minha casa e fiquei com medo que pudessem fazer alguma coisa comigo. Mas, se me desse um tiro, ia ser ao vivo. Todo mundo ia ver", disse.

“Estou fugida com meus filhos há duas noites, com medo, com a minha casa destruída, mas eles não podem fazer isso. Tratar a gente feito um cachorro. Tenho nota fiscal de tudo que tem aqui. Eu trabalho, parcelo no cartão, mas eu pago. Não podem fazer isso", acrescentou.

"Levaram até o velotrol do meu filho. Os vizinhos contaram que parou uma picape aqui em frente para levarem as minhas coisas”, continuou a mulher.

Sem justificativa
Tamires disse que não recebeu qualquer justificativa dos policiais para estarem dentro da sua casa e que o imóvel foi alvo da visita dos agentes duas vezes só nesta terça-feira: por volta das 12h e às 16h30.

A comerciante contou, ainda, que outros moradores da região também foram alvo dos supostos abusos e até agressões.

"Tem uma senhora que quebraram o trailer dela. Quebraram tudo, reviraram e levaram o cadeado. Outro rapaz, que tem uma lojinha aqui também, e ainda foi agredido. Para que isso?", disse.

A mulher afirmou que pretende denunciar os abusos na Corregedoria de Polícia. A comerciante também participou do protesto de moradores que fechou parte da Avenida Brasil, na tarde de terça.

"Fui protestar porque aqui ninguém aguenta mais. Aqui só tem família. A gente não enaltece bandido, não tem envolvimento com nada e não aguenta mais. A ideia era só protestar mesmo. Não era quebrar carro de ninguém, nem ônibus. Até porque, sou pobre e uso ônibus também", afirmou.

Corregedoria da PM diz que vai apurar denúncias
O g1 encaminhou alguns vídeos de Tamires para a Polícia Militar e questionou sobre os possíveis abusos.

A instituição informou que o comando da Secretaria de Estado de Polícia Militar "não tolera desvios de conduta e nem o cometimento de crimes por parte de seus entes, punindo com rigor os envolvidos quando constatados os fatos".

Informou ainda que o comando da corporação "já determinou a instauração de uma averiguação para a checagem da denúncia, e que a Corregedoria Geral da PM disponibiliza canais para o recebimento de denúncias dos cidadãos, garantido o anonimato do denunciante".

Parte das denúncias de Tamires e outros moradores de Parada de Lucas - e também manifestações contra abusos vindas da Cidade Alta e Vigário Geral - já chegou até à Ouvidoria da Defensoria Pública.

O órgão disse que informações e materiais foram encaminhados para apuração do Ministério Público, responsável pelo controle externo da atividade policial, juntamente com a solicitação dos moradores por medidas de interrupção das violações.

Além disso, a Ouvidoria da Defensoria Pública afirmou que também está em contato com denunciantes, disponibilizando ajuda para acesso à Justiça de famílias que desejem buscar reparação por eventuais danos sofridos.

Grupo que atuou no Jacarezinho vai visitar a região
Mônica Cunha, integrante da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj e é uma das fundadoras do Movimento Moleque, disse que a comissão já está ciente das denúncias e que pretende visitar o local ainda esta semana.

"Temos um grupo formado pela Comissão de Direito Humanos da Alerj, da Ouvidoria da Defensoria Pública e do Núcleo dos Direitos Humanos da OAB, que já está ciente e conversando com as lideranças locais para visitar a região ainda esta semana", disse.

"Organizamos esse grupo na época da Operação do Jacarezinho, para o trabalho ficar mais organizado, e é impressionante como as denúncias não param de chegar. É preciso que se entenda que ninguém é contra o trabalho da polícia. Ela tem que agir, mas não pode desumanizar, xingar morador, roubar ou desrespeitar", acrescentou.

Mônica defende que "o mesmo tratamento de Ipanema ou Leblon, onde também tem operação, tem que ser dado às outras comunidades".

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