Alvo de uma investigação da Polícia Judiciária Civil (PJC) acerca de um esquema de recebimento de propina, o vereador Sargento Joelson (PSB) teria se irritado ao receber a visita de um funcionário da HB20 Construções Eireli na Câmara Municipal de Cuiabá. Este funcionário, identificado como Jean Martins e Silva Nunes, engenheiro da empresa. A informação consta no inquérito da PJC, ao qual o jornal Estadão Mato Grosso teve acesso.
Conforme o documento, Joelson encaminhou um áudio ao seu contato da HB20, o funcionário João Jorge Souza Catalan, que “delatou” o esquema, reclamando dessa visita.
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“Bom dia, Jorge, tudo bom? Oh irmão, teve um cara aqui por nome Jean, falando em nome da empresa aí, querendo resolver problemas, de acordo... de acerto entre nós e vocês aí. Ôôh irmão, deixa eu só te falar cara, o acordo foi feito entre eu e você cara. O presidente chico um dia participou e deu o aval cara, agora você fica mandando terceiros aqui cara. Não está resolvido nosso trem? Nós não resolvemos a parte suas e você está terminando de resolver a parte nossa, então está tudo certo, não tem que ficar mandando ninguém aqui não, pow”, diz a transcrição do áudio.
E continuou.
“Aí vem esse cara aí que eu não sei quem é, nunca falei com ele, ninguém me apresentou ele. Fica um clima chato, cara. Não é assim que funciona as coisas aqui não pow. Ok? Vê aí... o negócio é entre nós (câmara) e você aí, Jorge. Tá tudo resolvido, a nossa parte tá resolvido, não tá?! Fizemos o que você pediu, você está resolvendo a nossa e está praticamente tudo certo já, então não entendi por que que esse cara veio aqui, cara”.
A conversa diz respeito, segundo as investigações da PJC, à negociação entre a empresa e os vereadores Sargento Joelson e Chico 2000 (PL), este último no cargo de presidente da Câmara Municipal de Cuiabá à época. A denúncia revela que a empreiteira pagou o valor de R$ 250 mil em propina para que os vereadores articulassem a aprovação de um projeto de lei que beneficiaria a HB20. O Município estava em dívida com a União e, portanto, impedido de receber transferências do Governo Federal, inclusive emendas parlamentares.
Com esse impedimento, a capital mato-grossense não tinha recursos para pagar a empresa, contratada para realizar as obras do Contorno Leste. A negociação da dívida tiraria o Município desse impedimento, já que o pagamento da entrada já tornaria Cuiabá regular.
O documento mostra a conversa entre Sargento Joelson e o funcionário da HB20, inclusive com comprovantes de transferência via PIX. A investigação também comprovou que, após a aprovação da lei, a empresa voltou a receber pelo trabalho desempenhado, inclusive com os maiores valores já recebidos até então.
Os dois vereadores foram alvos da Operação Perfídia no último dia 29, deflagrada pelas Delegacias Especializadas de Crimes Tributários (Defaz) e de Combate à Corrupção (Deccor). A ação foi autorizada pela juíza Edna Ederli Coutinho, substituta no Gabinete do Núcleo de Inquéritos Policiais (Nipo).
Já a denúncia chegou às mãos da PJC por meio do então deputado federal Abilio Brunini (PL), hoje prefeito da capital. Ele foi procurado por João Jorge Souza Catalan, que forneceu detalhes do esquema.
Ao todo, a empresa teria pagado o montante de R$ 250 mil em propina pela aprovação da lei. Desse valor, R$ 150 mil foi feito via PIX à conta do empresário José Márcio da Silva Cunha, cujos dados bancários foram repassados pelo próprio vereador Sargento Joelson.
Os outros R$ 100 mil teriam sido pagos em espécie ao próprio vereador Joelson. O valor seria dividido com outros parlamentares para aprovação da lei.