Neste mês, temos duas datas que servem como ponto de partida para as reflexões acerca do processo de sucessão nas empresas familiares: o dia das crianças (12) e o dia do professor (15). Afinal, como e quando os herdeiros devem iniciar essa preparação?
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Recentemente, a família Votorantim divulgou uma entrevista narrando a trajetória de sucesso nos últimos 103 anos no Brasil que necessariamente passou - e está passando - pelo preparo dos seus herdeiros a partir dos 15 anos de idade.
Mesmo que demonstrem não ter vocação ou não queiram trabalhar na empresa, os herdeiros precisam saber atuar como acionistas. E é natural a complexidade aumentar a cada nova geração, até mesmo pelo número de herdeiros que se multiplica.
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Da 4ª geração da Votorantim, por exemplo, faziam parte 23 membros, hoje, a 5ª compreende 80. A preparação significa mais que uma excelente educação formal, eles devem conhecer a trajetória da empresa, seus valores e o seu legado.
“A máxima que nos ajudou: tem que antecipar. Se esperar a geração seguinte estar pronta, você corre enormes riscos, inclusive de perder talentos”, disse Cláudio Ermírio de Moraes. Ele explicou ainda que o programa de formação vai até os 35 anos e inclui capacitação para “liderar”.
Em Mato Grosso, temos um cenário peculiar por se tratar de um estado onde o agronegócio é responsável por mais de 50% do Produto Interno Bruto (PIB). Mesmo na pandemia, a projeção para 2021 é de que o Valor Bruto de Produção (VBP) do setor para 2021 seja o maior do país, ultrapassando R$ 184 bilhões.
Portanto, nada mais justo que uma das preocupações dos nossos produtores rurais seja a sucessão familiar. Antigos hábitos estão sendo retomados, como integrar os filhos desde pequenos à rotina do negócio para que “tomem gosto”, como diz um dos meus clientes, que nos fins de semana costuma levar a esposa e os filhos para a fazenda.
Acontece que algumas décadas atrás, era comum os pais investirem no futuro dos filhos “fora da fazenda”. Eles tiveram acesso a uma educação muito boa, tornaram-se médicos, advogados, empresários, porém, por terem tido pouco contato com a rotina do negócio, uma parte deles não conseguiu dar continuidade ao legado familiar.
Sempre digo que ser membro de uma família empresária é sem dúvida um privilégio, mas traz responsabilidades. A perenidade ao longo das gerações (e isso a família Votorantim mostra muito bem) não vem por acaso, é fruto de preparação e estudo contínuo, algo que o filósofo Leandro Karnal avalia como “learnability”.
A capacidade de continuar aprendendo é um desafio contemporâneo para que possamos nos inserir melhor e mais produtivamente como protagonistas na história do mundo contemporâneo, disse Karnal. É também uma habilidade “chave” para a família empresária: “para que eu possa continuar aprendendo, eu preciso aprender, desaprender e reaprender”.
Karnal desafiou ainda: “quando termina minha capacidade de aprender? Quando eu decido que eu não tenho mais vida profissional, nem curiosidade pessoal”. Já a paquistanesa ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Malala Yousafzai, de 24 anos, nos lembra sobre a importância da educação para a vida. “Para mulheres e meninas, a educação é mais que apenas ler e escrever, trata-se de empoderamento e da emancipação”.
A mesma transformação acontece no seio da família empresária que precisou incluir novos conceitos e paradigmas. O conhecimento deixou de ser linear, fixo, meramente acumulativo para abranger percepções variadas, como liderança, sustentabilidade e comunicação.
Sem dúvida vivemos um momento histórico em que as gerações Z e Alpha, nascidas entre 1990 e 2010, deverão nos transportar para uma nova realidade. Porém, para que este processo realmente seja um grande salto para a humanidade, há que se colocar a educação em toda a sua complexidade como uma prioridade da família e da empresa.
Por meio desta nova perspectiva, ficou muito claro que o processo de sucessão se iniciou lá atrás, com o nascimento dos novos membros. Então, nosso cenário é este: vamos trocar a roda com o carro andando, o quanto antes melhor, e vamos que vamos!
CRISTHIANE BRANDÃO é conselheira de Administração em Formação, consultora em Governança & Especialista em Empresas Familiares e sócia fundadora da Brandão Governança, Conexão e Pessoas