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Opinião Sexta-feira, 13 de Novembro de 2020, 16:16 - A | A

Sexta-feira, 13 de Novembro de 2020, 16h:16 - A | A

LUANA SOUTOS

Nós temos a solução

Luana Soutos*

Um dia, andando pelo centro do Rio de Janeiro, avistei uma placa em frente a uma igreja evangélica. Nela estava escrito: "seja qual for o seu problema, nós temos a solução!". Como jornalista, ou seja, uma pessoa que trabalha com comunicação, que tenta compreender e fazer compreender mensagens o tempo todo, me senti diretamente tocada.

A porta estava aberta, era só entrar. Quanta facilidade, não é? Uma porta aberta, com as soluções para todos os seus problemas lá dentro. Quem recusaria? Eu recusei as soluções da igreja, não entrei, mas a frase da placa me persegue desde então.

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Persegue porque a mensagem é muito significativa e, do ponto de vista da comunicação, muito eficiente. Afinal, quem não tem problemas? Quem não quer soluções para os seus problemas? Seja financeiro, familiar, de saúde, seja qual for – como dizia a placa –, todo mundo tem algum tipo de problema para o qual quer a solução.

A frase persegue também porque eu sei que, seja qual for o problema, certamente sua causa tem um fundo social e, por mais orações que qualquer igreja possa oferecer para tentar superá-lo, não será o suficiente. Problemas sociais se resolvem com políticas.

Por exemplo, se o problema é financeiro, a causa é o crescente desemprego que assola o país – apesar da mentirosa Reforma Trabalhista. Isso é um problema social, que se resolve com política. O problema financeiro também pode ser causado pelo salário mínimo congelado há dois anos, pela péssima distribuição de renda do país, pela desigualdade, pela inflação que faz aumentar o preço do arroz, do pepino, do tomate, do gás de cozinha. Tudo o que políticas podem resolver.

Se o problema é familiar, ele pode ser motivado também por questões financeiras – cujas soluções já conhecemos –, e agravado pelo machismo nosso de cada dia – que também é uma questão social que se resolve com política: punição de agressores, educação diferenciada, assistência adequada às vítimas de violência.

Se o problema é de saúde, pode ser resolvido com políticas de investimento no Sistema Único de Saúde. O SUS já se mostrou, por diversas vezes, um dos nossos maiores tesouros, que os governos neoliberais tentam de todo jeito abocanhar. Defendendo o SUS, exigindo mais investimentos e melhorias, teremos soluções políticas para qualquer problema de saúde. Se o problema for o uso de álcool e outras drogas: políticas de saúde!

Se o seu problema é considerado espiritual, se há uma inquietação interior que você não sabe explicar o motivo, o SUS também pode ajudar, garantindo acesso decente a acompanhamentos terapêuticos – de verdade, com profissionais especializados.

Enfim, seja qual for o seu problema, nós, lutadores sociais, temos a solução. A solução para todos os seus problemas é superar o capitalismo, é a construção de uma sociedade justa e igualitária. Será fácil? Com certeza não, da mesma forma que não é fácil sofrer as consequências de inúmeros problemas com os joelhos pregados no chão, por tempo indeterminado, esperando a providência divina.

Para conhecer melhor as soluções dos lutadores sociais, no entanto, será preciso entrar. Há várias portas, e todas estão abertas.

 

* LUANA SOUTOS é jornalista e socióloga

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