O envelhecimento é um processo inerente à existência humana, mas para a comunidade LGBTI+, ele se reveste de particularidades e desafios que merecem profunda reflexão. A 29ª Parada do Orgulho LGBTI+ de São Paulo, ao abordar o tema, lançou luz sobre a complexa jornada de indivíduos que, ao longo da vida, enfrentaram e ainda enfrentam um espectro de aceitação e reprovação social, culminando, muitas vezes, em uma vivência de solidão na maturidade. Desde a juventude, membros da comunidade LGBTI+ frequentemente navegam por um mar de preconceitos e discriminações. A busca por aceitação familiar e social, a luta contra o estigma e a violência, e a invisibilidade em diversos espaços foram e são elementos constantes em suas trajetórias. Essas experiências moldaram a forma como encaram o mundo e a si próprios, construindo resiliência notável, mas também deixando marcas profundas. Muitos precisaram construir suas próprias "famílias" de escolha, formadas por amigos e pares que ofereciam o apoio negado por suas famílias de origem. Essa rede, embora vital, nem sempre se mantém intacta ao longo das décadas, especialmente com a perda de amigos ou a distância geográfica. Na fase madura da vida, quando muitos esperam colher os frutos de uma vida de trabalho e construir redes de apoio sólidas, a realidade para uma parcela significativa da população LGBTI+ pode ser distinta. A ausência de companheiros e companheiras, seja pela perda, pela falta de reconhecimento de suas uniões ao longo da vida, ou pela dificuldade de encontrar novos parceiros em idade avançada, é uma questão premente. O afastamento de familiares que não aceitaram sua identidade ou orientação, somado à falta de políticas públicas e espaços inclusivos que compreendam as especificidades dessa população, contribuem para um cenário de isolamento. A solidão, que pode ser um fardo para qualquer pessoa idosa, adquire contornos ainda mais agudos para aqueles que viveram à margem das convenções sociais por tanto tempo. A saúde mental é outra preocupação. Anos de discriminação e estigma podem levar a índices mais elevados de depressão, ansiedade e outros transtornos psicológicos na velhice. A dificuldade de acessar serviços de saúde que sejam sensíveis às suas necessidades e que não repliquem preconceitos existentes na sociedade é um obstáculo adicional. Muitos idosos LGBTI+ também enfrentam a pobreza, pois tiveram menos oportunidades de construir segurança financeira devido à discriminação no mercado de trabalho ou à falta de herança em famílias que os rejeitaram. É fundamental que a sociedade e o poder público reconheçam essa realidade e desenvolvam estratégias para mitigar os impactos negativos do envelhecimento na comunidade LGBTI+. A criação de redes de apoio específicas, como centros de convivência para idosos LGBTI+, onde eles possam se sentir seguros, compreendidos e socialmente conectados, é um passo crucial. A promoção de políticas públicas inclusivas em saúde e assistência social, com profissionais capacitados para atender às suas necessidades sem julgamento, é indispensável. Isso inclui o desenvolvimento de programas de moradia assistida que sejam inclusivos e que combatam a discriminação em abrigos e casas de repouso tradicionais. Além disso, a desconstrução de preconceitos em todas as esferas da sociedade é um trabalho contínuo. Campanhas de conscientização, educação nas escolas e a representatividade positiva na mídia são essenciais para transformar a cultura e criar um ambiente mais acolhedor para todas as gerações LGBTI+. O envelhecimento é uma fase da vida que deve ser vivida com dignidade e bem-estar por todos, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero. A discussão iniciada na Parada do Orgulho LGBTI+ de São Paulo é um convite para que a sociedade reflita e atue em prol de um futuro mais inclusivo e solidário para os idosos LGBTI+.
Nelly Winter, drag queen desde 2001, tornou-se referência como artista e ativista LGBTQIAPN+, com livros, antologias e o podcast DragPod. Sua trajetória em Mato Grosso combate tabus e promove representatividade, mesmo após censuras
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