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Opinião Segunda-feira, 01 de Novembro de 2021, 16:32 - A | A

Segunda-feira, 01 de Novembro de 2021, 16h:32 - A | A

OPINIÃO

Do cadafalso à tribuna

ROSANA LEITE*

Nascida Maria Gouze, conhecida mundialmente como Olympe de Gouges, nasceu em Montauban em 01/05/1748, sendo morta na guilhotina em Paris no dia 03/11/1793. Feminista, filósofa, dramaturga, política, ativista e abolicionista, foi uma mulher que fez e deixou história.

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Defensora das mulheres e da democracia enfrentou o patriarcado da sua época de maneira firme. Nascida de família simples, onde o pai era açougueiro e a mãe lavadeira, casou-se aos 16 anos, advindo o nascimento de um filho. Ficou viúva muito nova, quando adotou o epíteto famoso ao ter ingressado para a arte de escrever. Seus escritos se perfaziam em ensaios, manifestos e ações para as causas sociais. Com a Revolução Francesa e a busca pela igualdade, passou a tratar do feminismo e temas como o direito ao divórcio e ao direito sexual e reprodutivo das mulheres.

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Tendo vivenciado de perto a Revolução Francesa, passou a perceber que a tão sonhada igualdade não incluía as mulheres. Em resposta à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, Olympe escreveu a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã. Logo depois, a ativista escreveu o Contrato Social, inspirado na obra de Rousseau, manifestando a necessidade de igualdade entre os parceiros e parceiras no casamento.

Como dramaturga, de Gouges denunciava a escravidão e o machismo, buscando instruir as pessoas em suas peças teatrais. Questionou e ironizou o uso do termo “homem” para significar a humanidade. Afirmava que os direitos negligenciados que ela costumava cuidar eram resultado da tirania e da opressão sofrida pelas pessoas vulneráveis.

Conclamou as mulheres à reflexão de que a revolução não deveria ser quanto à violência, mas, sim, à mudança de consciência: “Essa revolução só acontecerá quando todas as mulheres tiverem consciência de seus destinos deploráveis, e dos direitos que elas perderam na sociedade.” Em um de seus célebres panfletos, em razão da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, para trazer as mulheres à meditação ditou: “Ó mulheres! Mulheres, quando deixareis vós de ser cegas?”.

Em tempos atuais, mulheres reconhecem os seus direitos e se negam, em pleno ato solene de casamento, a jurar submissão ao companheiro. E que situação: ainda existem ‘votos de casamento ou união’ a jurar submissão...

Lutou bravamente contra os abusos do Antigo e do Novo Regime, pedia liberdade, justiça pelos fracos, oprimidos, mulheres, negros, mães solo, para os filhos e filhas fora do casamento, para as prostitutas e os desempregados. Era uma mulher de tamanha vanguarda que dizia, naquele tempo, ser hora de extirpar discursos que naturalizavam as qualidades de sensibilidade para elas, esclarecendo que a esfera pública não deveria ser apenas deles, ficando para elas tão somente os cuidados do lar. Antes da guilhotina não se calou: “Se a mulher tem o direito de subir ao cadafalso, ela deve ter igualmente o direito de subir à tribuna.”

* ROSANA LEITE é defensora pública do Estado de Mato Grosso

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