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Opinião Quarta-feira, 11 de Junho de 2025, 16:18 - A | A

Quarta-feira, 11 de Junho de 2025, 16h:18 - A | A

MICHELLE DORILEO

As prerrogativas dos advogados frente à modernidade e à inteligência artificial

Michelle Regina de P. Z Dorileo*

Vivemos uma era em que a tecnologia redefine, diariamente, as fronteiras entre o humano e o artificial, inclusive no exercício das profissões mais tradicionais, como a advocacia. O avanço da inteligência artificial (IA) já impacta diretamente a forma como os advogados atuam, oferecendo ferramentas que aceleram pesquisas jurídicas, redigem petições preliminares e analisam jurisprudências com uma agilidade antes inimaginável. Diante desse cenário, é necessário refletir sobre como as prerrogativas dos advogados se mantêm essenciais — e devem ser resguardadas — mesmo em um contexto de modernização.

As prerrogativas profissionais não são privilégios individuais, mas garantias da cidadania e da ordem democrática. Elas existem para assegurar que o advogado possa exercer sua função com independência, liberdade e respeito, protegendo os direitos do cidadão frente ao poder estatal. Por isso, mesmo que a tecnologia assuma tarefas técnicas e rotineiras, ela jamais poderá substituir a essência do trabalho jurídico: o raciocínio crítico, a sensibilidade humana e o compromisso ético com a Justiça.

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A IA, por mais sofisticada que seja, ainda é incapaz de captar nuances emocionais, contextos sociais e valores morais que influenciam uma causa. Uma petição bem fundamentada não é apenas um amontoado de artigos e precedentes — é o resultado de uma escuta atenta, de uma leitura humanizada dos fatos e da construção de uma narrativa jurídica que busca justiça. Isso é algo que nenhuma máquina é capaz de reproduzir com autenticidade.

Ademais, a modernização não pode servir como justificativa para violar prerrogativas, como o sigilo entre advogado e cliente, o direito de se comunicar com o réu, ou a inviolabilidade do escritório. Pelo contrário: quanto mais os sistemas se automatizam, mais atenção deve-se ter à proteção desses direitos fundamentais da profissão. Cabe ao Poder Judiciário, às instituições de classe e à própria sociedade reconhecerem que o uso da IA deve estar a serviço da advocacia e da Justiça — e não o contrário.

Portanto, a tecnologia pode e deve ser uma aliada do advogado. Mas nunca deve reduzir sua autonomia, silenciar sua voz ou comprometer sua missão essencial: defender direitos, garantir o devido processo legal e zelar pelo equilíbrio entre as partes. A advocacia moderna precisa estar conectada às inovações, mas sem abrir mão da dignidade que sustenta sua atuação.

MICHELLE DORILEO é advogada

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