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Economia Sábado, 27 de Fevereiro de 2021, 13:00 - A | A

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PRESOS AO VOLANTE

Valor da tarifa não paga nem a partida do carro, diz motorista

Priscilla Silva

Às cinco da manhã, Antônio Marcos já tinha deixado sua casa para trabalhar como motorista de aplicativo na capital de Mato Grosso, Cuiabá. A jornada é pesada e se estende até às 9h ou 10h da noite, com quase nenhum tempo de descanso. São dois intervalos de apenas uma hora, um para almoço e outro para o jantar.

Antônio é só um dos quase 5 mil motoristas de aplicativo que tentam ganhar a vida em Cuiabá e Várzea Grande. Há dois anos na atividade, hoje ele passa 16 horas por dia transportando passageiros de uma região para outra. Apesar de muito trabalho, ele não conta com os benefícios trabalhistas nem com o que seria o mínimo: o reajuste das tarifas pagas pelos aplicativos. “Não está tendo lucro”, reclama.

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Uma viagem do centro de Cuiabá a um famoso shopping na região do bairro Goiabeiras atualmente custa cerca de R$ 5 para o passageiro. Desse total, Antônio irá receber apenas R$ 3,75 pela corrida. Segundo Cleber Cardoso, presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativo (AMA-MT), o valor “não paga nem a partida que se dá no carro”.

Antônio Marcos também já anda prevendo o impacto futuro da atividade. Nesses dois anos de serviço, conviveu com diferentes tipos de passageiros. Em sua avaliação, o fim deste tipo de serviço atingirá principalmente os mais pobres.

“Vai chegar hora que os carros não irão aguentar e vão parar. Vai acabar e não vai ter mais. Lamento, porque querendo ou não é um serviço bom para população. Não é falar mal não, mas táxi era muito caro em Cuiabá. Com o aplicativo, todo mundo usa [transporte privado]. Um dia desses atendi uma senhorinha bem humilde, do bairro Três Poderes, que me disse assim: 'Ô meu filho! isso aqui foi de Deus pra nós, porque nós que é pobre não andava de táxi não (sic). Hoje eu faço compras, mercado, pego meus aposentos, tudo de Uber. Não uso mais ônibus, ainda mais com essa pandemia’. Então, isso facilitou a vida da população tanto para quem usa quanto para quem trabalha”, relata Antônio.

No fim dessa jornada de quase 16 horas por dia, Antônio faz as contas do quanto gastou e o quanto sobrou desse valor. A maior parte do dinheiro será destinado para pagar o combustível do dia seguinte: “gasto um tanque, 120 reais por dia”.

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