Responsável por quase 8% do consumo global de fertilizantes, o Brasil enfrenta ameaça de escassez de insumos para as próximas safras. A pouca oferta de adubos, aliada à onda de valorização do câmbio, coloca produtores ‘entre a cruz e a espada’ na tomada de decisão da segunda safra do milho e a próxima temporada da soja.
Em Mato Grosso, o custo de produção da soja subiu quase 25% para o sojicultor na comparação entre os meses de setembro de 2020 e 2021, segundo dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). A principal contribuição para essa alta veio dos fertilizantes (químicos ou orgânicos), cujos produtores disputam a compra com o mercado global.
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A produção agropecuária, assim como a soja, também atravessa um momento de alta generalizada dos insumos. Neste caso, o Brasil, que é o quarto maior consumidor global de fertilizantes – depois da China, índia e dos Estados Unidos –, corre o risco de ser o mais afetado pela redução de oferta desses insumos.
Para tratar sobre o risco de prejuízos na produção da safra 2021/2022 por falta do básico, políticos e porta-vozes de entidades do agro estiveram reunidos nesta quinta-feira (21), em reunião pública da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA). O debate expôs a defasagem de políticas e estratégias internas, aumento de demanda internacional, câmbio e crises geopolíticas em outros países.
Os tópicos evidenciam uma realidade contraditória dentro de um país que é um dos maiores produtores de alimentos do mundo: a dependência por adubos importados.
“É notório que nos acostumamos à importação, porque a produção de insumos, como fertilizantes, exige grandes investimentos”, admitiu Sergio de Zen, diretor executivo de Política Agrícola e Informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), durante audiência.
A causa dessa dependência, segundo ele, vem da falta de regulamentação. “O Brasil não tem uma política definida de produção, de favorecimento de produção doméstica. Não tivemos nenhuma estratégia nos últimos 30 anos para produção interna”, termina.
Apesar disso, o País reúne todas as condições necessárias para começar existe a sua própria produção de fertilizantes. “Poderiam ser extraídos de agriculturas de larga escala já existente no Brasil”, aponta Sérgio. Um exemplo é a vinhaça “subproduto que é fonte de potássio. Isso não substituiria o insumo importado, mas temos que ter uma política clara sobre isso”. A vinhaça é resíduo do processo de destilação do álcool. Sua aplicação no preparo do solo pode aumentar a disponibilidade de nutrientes.
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A curto prazo, entidades do setor do agronegócio realizam campanha de uso consciente dos fertilizantes. A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) fez a recomendação de “que o momento do mercado é de alta dos preços e o produtor não precisa ter pressa para comprar”.
“Não precisa ter pressa para pagar caro. Os preços de fertilizantes mais que dobraram no mercado. Essa é uma decisão pessoal de cada produtor, mas ele não pode pagar esse preço”, reforçou Fernando Cadore, presidente da Aprosoja-MT.
A entidade fez um alerta sobre a safra 2022/2023, que está com a alta dos preços e a falta de insumos. Para ajustar as contas a essa realidade, a recomendação é que o produtor rural busque consultoria agronômica e faça uso racional de fertilizantes, usando a reserva de solo.
“Use menos adubo. Utilize sua reserva de solo e otimize a viabilidade da safra. Procure a orientação do seu agrônomo, avalie os nutrientes que seu solo possui e, se for possível, plante sem adubar, utilizando apenas a reserva de solo”, destaca Cadore.
A reserva ou poupança no solo é a retenção de nutrientes aplicados de outras safras. O produtor, ao longo do tempo, aplica os insumos projetando uma produção mais alta, fazendo com que permaneça no solo uma quantidade de nutrientes.