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Cidades Domingo, 24 de Outubro de 2021, 08:30 - A | A

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MOVIMENTO ANTIVACINA

Pessoas revelam motivos que levam a ‘fugir’ da vacinação

A desconfiança e a perda de pessoas já vacinadas criam barreiras entre a ciência e população

Brenda Closs

Estagiária | Estadão Mato Grosso

Mais de 36% da população mundial já está totalmente vacinada contra a covid-19. O imunizante desenvolvido para conter a propagação da doença que já matou mais de 603 mil pessoas só no Brasil, desde março de 2020, nos deixou mais perto de vislumbrar uma saída para a pandemia, evidenciada pela redução no número de mortes e de novos casos nos últimos meses. Só que, ainda assim, existem muitas pessoas que não tomaram e nem pretendem receber a vacina.

Uma dessas pessoas é Dóris*, que não irá se imunizar contra a covid-19 por ter medo do desconhecido e considerar que o imunizante foi produzido de forma muito rápida. “Acredito que dentro de uns anos teremos a cura para a covid ou a imunização correta, mas [no momento] somos ratos de laboratório”.

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Para uma vacina ser lançada no mercado é preciso passar por diversas etapas na sua validação. O médico infectologista Luciano Corrêa explica que a vacina contra a covid-19 utiliza uma base de históricos de outras vacinas para ‘pular’ algumas dessas etapas, mas o desenvolvimento rápido só foi possível devido ao avanço da tecnologia no setor biomédico.

“O fato dela [vacina] ter surgido de forma rápida não significa que não é segura. O mundo inteiro investiu nela, as indústrias investiram pesado em tecnologia para trazer uma vacina com muita segurança para a sociedade. São testes muito rigorosos ao longo de sua produção, ou seja, quando ela foi validada, liberada para a população, ela já passou por toda essa fase de testes”, esclareceu.

Mesmo assim, Marcos* também não pretende se vacinar contra a covid-19. Ele é diabético e poderia ter se vacinado logo no início da campanha de imunização, mas evita a agulha por que desconfia da eficácia da vacina. Desconfiança reforçada pela perda de um amigo para a doença, em julho deste ano. “Ele já tinha se imunizado com as duas doses da vacina e mesmo assim morreu”, conta.

Mortes após a imunização completa são possíveis, explica o infectologista Luciano Corrêa, já que nenhuma vacina é 100% eficaz. Ainda assim, as chances de um indivíduo vacinado morrer são muito inferiores à de um que não recebeu a vacina. Por isso, é preciso analisar o histórico desse paciente e ver se outros fatores também influenciaram no resultado.

“Para cada caso tem que se ter uma avaliação. Se é idoso, se tem comorbidade, se tinha câncer e mesmo um indivíduo considerado saudável pode se infectar e morrer. Mas vendo pelo macro, a nível de saúde pública, esse resultado é muito baixo” afirmou o médico.
Luciano destaca que a decisão de não se imunizar também interfere na saúde de outras pessoas, pois os indivíduos não-vacinados criam um risco maior de infectar outras pessoas.

“Nós só passamos a ter mais tranquilidade com o vírus quando a vacinação avançou. Isso significa que a vacina tem eficácia. A única maneira que existe de controlar a doença é a imunização em massa da população. O objetivo dessa e de qualquer vacina é garantir o poder imunogênico para a grande maioria da população”, explica o médico.

TODOS DEVEM SE VACINAR

Quando a decisão de não se vacinar engloba outras pessoas da família, o médico faz outro alerta. “Tem que vacinar sim”, disse. Mas Dóris, que possui dois filhos em idade escolar, afirma que eles também não serão imunizados.

Para Luciano, essa decisão é irresponsável e coloca em risco a vida de pessoas que sequer têm a capacidade de escolher por conta própria. Crianças e adolescentes têm probabilidade baixa de evoluir para um quadro grave da doença, como uma pneumonia por exemplo, mas podem infectar pais e avós que tenham o sistema imunológico fragilizado e sofrer com as complicações da doença.

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“Tem que vacinar sim. Um dos mecanismos de se evitar a disseminação da doença no ambiente escolar é que a maioria dos alunos e professores estejam vacinados. Não existe isso de não vacinar jovens. Se a gente ficar negando a vacina, nunca iremos conseguir controlar a doença”, concluiu.

QUEDA NA PANDEMIA

O avanço da vacinação contra a covid-19 fez com que a pandemia mudasse drasticamente em Mato Grosso. A doença, que já fez mais de 13 mil vítimas no estado, entrou em declínio e hoje a situação encontra-se controlada. Cenário bem diferente do que foi visto entre os meses de janeiro e março, com hospitais superlotados e pessoas morrendo à espera de uma vaga em UTI.

Essa evolução foi observada por Cesar*, que também estava receoso a respeito da vacinação. Ele tinha desconfianças com relação à vacina pelos mesmos motivos de Dóris, mas mudou de ideia após constatar os benefícios que a vacinação já proporcionou.

“Agora como muitas pessoas já se vacinaram, poucos incidentes com a vacina, ou que tiveram problemas com ela, eu me sinto confiante para tomar. Ainda esse mês, se possível”, garante.

*Nomes fictícios, usados a pedido dos entrevistados, para preservar suas identidades
** Estagiária sob a supervisão da editora Cátia Alves
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