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Cidades Terça-feira, 21 de Janeiro de 2020, 08:00 - A | A

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COMO TUDO COMEÇOU

Pesquisador da UFMT participa de expedição mundial

Doutor da UFMT integrará equipe de pesquisadores de vários países que analisarão rochas do fundo do oceano para saber quando continente se separou

Tarley Carvalho

Com o objetivo de mapear uma idade mais precisa sobre a separação dos continentes sul-americano e africano, pesquisadores de vários países participam em julho deste ano de uma expedição no Oceano Atlântico equatorial para explorar rochas do fundo do mar. A equipe, composta por 27 pesquisadores, conta com três brasileiros, sendo um deles da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), o doutor em Geociências Carlos D’Apolito. Esse consórcio mundial é conhecido por IODP, sigla para Programa Internacional de Descoberta Oceânica, e a expedição terá duração de 60 dias.

A pesquisa será realizada por meio de escavação no oceano. Em um navio, a equipe irá extrair cerca de 1.000 metros de rocha. Cada pesquisador terá um papel nesse trabalho. O de D’Apolito é encontrar pólen e esporos – unidades de reprodução das plantas e algas – armazenados nessas rochas. Com grande capacidade de preservação, essas estruturas vão ajudá-lo a compreender o ecossistema da época em que viveram.

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O resultado das diversas pesquisas contribuirá para que a ciência diga, com mais precisão, o período em que o território se dividiu, dando origem aos continentes. O lugar escolhido para perfuração, calcula-se, é o último elo entre os dois territórios antes da divisão se concluir.

A estimativa aponta que essa separação se deu entre 100 e 115 milhões de anos atrás. Carlos explica à nossa equipe que a pesquisa dará pistas também de como era o ecossistema na época.

“No momento de separação, você tinha mares muito rasos, então, não era um oceano profundo como a gente tem hoje. Eram oceanos rasos e mares rasos e nesse tipo de ambiente as condições ambientais são muito diferentes (...) coisas desse tipo são muito diferentes: salinidade, correntes oceânicas e temperatura”, explicou.

COLCHA DE RETALHOS

O navio que transportará a comissão de pesquisadores é equipado com alguns laboratórios. Isso permitirá que algumas pesquisas já sejam realizadas a bordo. Contudo, nem todas as análises poderão ser feitas no navio, por isso, os pesquisadores levarão consigo parcelas das rochas extraídas, para que continuem as pesquisas em seus laboratórios.

No final, os resultados poderão ser “juntados” para publicação em uma revista científica internacional. Isso, porém, não é obrigatório. Caso um pesquisador chegue a resultados que não dependam das pesquisas dos demais integrantes, poderá publicar seu próprio resultado.

O material também, provavelmente, será estudado por pessoas que não integrem a equipe. “Eu, enquanto membro do laboratório, posso orientar mestrandos com esse material. Então, ele pode ser usado na formação de recursos humanos também. É muito comum, na verdade, que isso aconteça, porque ninguém consegue fazer tudo sozinho”, explicou o pesquisador.

D’Apolito também confirmou que há expectativas de que a pesquisa revele novas espécies. Segundo ele, é comum que esse tipo de exploração revele espécies desconhecidas até então, principalmente em regiões tropicais, onde há menos estudos. A expectativa é que os primeiros resultados da expedição já comecem a ser publicados em um ou dois anos.

Mudanças climáticas também serão estudadas em pesquisa

A descoberta de novas espécies não deverá ter uma aplicação imediata, mas compreender como era o clima no passado é fundamental para compreendermos melhor o comportamento do planeta numa mudança climática, como a que estamos passando agora.

“[Durante a pesquisa] a gente vai ver muitas espécies novas aparecendo e muitas se extinguindo. Então a gente tem um vaivém de espécies o tempo todo. Isso pode ser relacionado, por exemplo, com o clima. Então, no passado, o clima esquentou, isso gerou novas espécies ou extinguiu espécies? Isso é uma pergunta que a gente pode tentar responder com esse tipo de material. Como que o ecossistema tropical se comporta em meio de eventos climáticos?”, exemplificou.

O pesquisador ainda explicou que será possível prever o comportamento de determinada planta acerca das mudanças climáticas, mas o de um ecossistema, no caso, o tropical.

O PROJETO

O consórcio IODP é composto por pesquisadores de vários países. As nações que contribuem financeiramente têm o direito a encaminhar, uma vez por ano, um pesquisador seu. Cada expedição custa em torno de US$ 25 milhões (dólares americanos).

Para ser escolhido para a comitiva, Carlos D’Apolito precisou apresentar um projeto de pesquisa à IODP. Ele vai como pesquisador brasileiro, sem nenhuma relação com a UFMT. O Brasil entrou no acordo via Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação (MEC).

Os pesquisadores que estarão presentes na expedição não ganharão salário ou qualquer outro tipo de remuneração. A expectativa é que, ao menos, as passagens até Fortaleza sejam custeadas.

A pesquisa deve permanecer por muitos anos. Segundo Carlos, é comum que materiais coletados há muito tempo continuem a ser estudado por pesquisadores. Segundo ele, há materiais dos anos de 1970 que, até hoje, ainda são requisitados por pesquisadores que tentem descobrir algo até então não estudado.

Pangeia: como tudo começou

A palavra Pangeia vem do grego e significa “toda a Terra”. O nome foi utilizado no começo do século XX pelo geólogo e meteorologista alemão Alfred Wegener para batizar sua teoria de que os continentes, há cerca de 200 milhões de anos, não tinham a divisão atual. Sua tese é de que a Terra possuía apenas um continente, o Pangeia. Wegener também teorizou que o planeta só possuía um oceano na época, o Pantalassa.

Com o passar do tempo, esse grande continente então teria se dividido em dois, aos quais chamou de Laurásia e Gondwana. Passando por nova divisão, esses dois grandes continentes novamente se dividiram, se tornando o que conhecemos hoje.

A teoria foi desenvolvida a partir da percepção de que os continentes Americano e Africano possuíam “perfeito encaixe”, como duas peças do quebra-cabeça.

Além disso, Wegener também considerou fósseis de animais encontrados em solo brasileiro e africano. Tais animais não tinham a capacidade de atravessar o oceano a nado, de um continente a outro. Um deles é um Mesossauro, cujo registro foi encontrado em Mato Grosso e na África. Partindo desse princípio, o geólogo levantou a hipótese de que eles teriam vivido nos dois lugares quando ambos eram um só.

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