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Cidades Sexta-feira, 16 de Maio de 2025, 07:03 - A | A

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TRÂNSITO SOB ALERTA

MT tem a 4ª maior taxa de mortes por acidentes de moto do país; Cuiabá registra queda

Imprudência e inexperiência contribuem para acidentes

Maiara Max

Repórter | Estadão Mato Grosso

O Brasil viu um aumento de 12,5% nas mortes causadas por acidentes com motocicletas em 2023 e Mato Grosso ocupa o 4º lugar no ranking nacional, com 14,7 óbitos a cada 100 mil habitantes. Os dados são do Atlas da Violência 2025, divulgado na última semana pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), que pela primeira vez incluiu informações sobre violência no trânsito.

O levantamento revela que as motocicletas estão envolvidas em quase 39% dos acidentes fatais no país. Em 2023, foram 13,5 mil mortes, contra 12 mil em 2022. Especialistas apontam que a popularização das motos, aliada à falta de preparo dos condutores e à precariedade das vias, ajuda a explicar o cenário.

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Em Mato Grosso, a frota de motocicletas cresce continuamente. Segundo o Departamento Estadual de Trânsito (Detran), já são 731.728 motos em circulação no estado, sendo mais de 109 mil apenas em Cuiabá.

Apesar dos dados alarmantes, a capital apresenta um desempenho diferente. De acordo com o comandante do Batalhão de Polícia Militar de Policiamento de Trânsito Urbano e Rodoviário, tenente-coronel Fábio Ricas de Araújo, a cidade tem registrado quedas consistentes nos índices de mortes no trânsito nos últimos dois anos.

“O Batalhão de Trânsito possui uma atuação permanente nas rodovias estaduais da Baixada Cuiabana e perímetro urbano de Cuiabá e Várzea Grande. Nessas rodovias, temos obtido constantes reduções nos acidentes de trânsito. Em 2024, em relação a 2023, foi verificada uma redução de 40%. Este ano também já estamos obtendo uma redução de acidentes em relação a 2024, de cerca de 30%”, afirmou.

Dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), revelam que Cuiabá teve 85 mortes no trânsito em 2023. Em 2024, o número subiu levemente para 88, mas as mortes envolvendo motocicletas caíram de 46 para 37.

Ainda assim, a imprudência no trânsito continua sendo uma das principais causas de acidentes graves, como relata um motociclista que sofreu um acidente no mês passado na capital:

“Eu estava indo pro trabalho de moto, no limite permitido da via, 40 km/h, quando uma motorista atrasada pro serviço resolveu que poderia andar em uma velocidade maior e ultrapassar um caminhão na curva. Ao sair pra ultrapassar o caminhão, colidiu de frente comigo e, na tentativa de desviar, ela bateu com o carro no caminhão, aumentando ainda mais os danos. Com a batida eu quebrei a perna em três lugares e distendi o nervo da mão direita”, explicou o motociclista, que preferiu não ser identificado.

Além da imprudência, a precarização do trabalho de motoboys e entregadores por aplicativos também é apontada como um fator de risco. João Gabriel Patriota Muniz, presidente do Instituto Motoboy, afirma que a pressão por produtividade, as longas jornadas e a ausência de equipamentos de proteção contribuem diretamente para o aumento dos acidentes.

“As empresas de aplicativo patrocinam o Carnaval e o Big Brother, mas não mostram que esse dinheiro aí é proveniente do sofrimento de várias pessoas por causa da precarização do nosso trabalho”.

A falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), a jornada excessiva e o cansaço são fatores que agravam os riscos. Muitos motoboys já perderam a vida ou ficaram com sequelas graves, o que também pressiona o sistema de saúde.

“[...] a gente já perdeu muitas vidas aí, muitos amigos no trânsito, ele está matando mais que qualquer guerra, e as sequelas são gigantes, além de impactar numa questão de seguridade social também”, explicou.

João critica a falta de políticas públicas voltadas à segurança dos motoboys, ele cita como exemplo positivo a implantação da faixa azul em outras capitais, que ajudou a reduzir — e em alguns casos até zerar — o número de acidentes. Em Cuiabá, destaca vias perigosas como a Miguel Sutil e a Avenida da FEB, onde já ocorreram várias mortes de motoboys e motociclistas. 

O presidente do Instituto menciona uma conquista recente: a instalação de pontos de apoio para que motoboys possam descansar entre as corridas, aprovada na Câmara de Vereadores. Também defende outras medidas, como cursos de direção defensiva, que poderiam ser oferecidos pelo poder público.

“[...] muitos jovens que acabam optando por uma renda extra ali, a inocência acaba até perdendo as vidas pela falta de experiência, pela falta de políticas públicas voltadas para essa área também como um curso de direção defensiva, acho que o Governo tinha que fazer, a Prefeitura tinha que incentivar isso, a Secretaria de Mobilidade Urbana. Então, a gente vê que não é só um fator, são vários, né, que acabam culminando nesse alto índice de acidentes que tem aqui na nossa capital”, concluiu.

Para o comandante Ricas, a prevenção é o caminho mais eficaz. Ele destaca que acidentes com motos estão diretamente ligados à conduta dos próprios condutores.

“A motocicleta é um tipo de veículo mais vulnerável e suscetível a acidentes. Qualquer descuido na condução de motocicleta, o risco de acidente é maior, se comparado aos demais veículos”, alerta.

As infrações mais comuns flagradas nas fiscalizações incluem dirigir sem CNH, circular sem licenciamento e trafegar por áreas proibidas como calçadas e canteiros. A PM realiza operações diárias no perímetro urbano e rodoviário com foco na segurança.

O tenente-coronel reforça que um trânsito mais seguro depende de três pilares: vias em boas condições, condutores conscientes e fiscalização eficaz. Em apoio à campanha Maio Amarelo, ele finaliza com um apelo à responsabilidade coletiva:

“O trânsito é um espaço de convivência e, como tal, merece nosso respeito e atenção. A cada acidente, a cada vida perdida, estamos diante de uma tragédia que poderia ser evitada com atitudes simples, mas eficazes. Ao agir com prudência, empatia e respeito, não apenas protegemos nossas vidas, mas também a vida de todos que compartilham as vias conosco. Vamos juntos construir um trânsito mais humano e menos violento”, concluiu.

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