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Brasil Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2020, 09:07 - A | A

Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2020, 09h:07 - A | A

CASO CARREFOUR

MP denuncia seis pessoas pelo assassinato de João Alberto

Se aceita pela Justiça, eles devem responder por homicídio triplamente qualificado. Assassinato de cidadão negro no Carrefour Passo D"Areia completa um mês neste sábado (19).

G1 | RS

O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) denunciou, nesta quinta-feira (17), seis pessoas pela morte de João Alberto Silveira Freitas, cidadão negro que foi morto após ser espancado no supermercado Carrefour Passo D'Areia, em Porto Alegre, na véspera do Dia da Consciência Negra.

Eles vão responder por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, asfixia e recurso que impossibilitou a defesa da vítima).

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"Um homicídio triplamente qualificado, além do torpeza ligada ao preconceito racial, nós temos o uso do meio cruel que seria asfixia, além da agressão brutal e desnecessária, junto ao final com o recurso que dificultou a defesa, exatamente por essa superioridade numérica, sempre há impossibilidade de resistência da vitima, que vai a óbito após cinco minutos de manejo cruel por parte de seus agressores", explicou o promotor André Martinez.

O MP-RS também informou que instaurou três inquéritos civis: danos coletivos, direitos humanos e patrimônio público.

"Somatório que, unido, somou nessa tragédia. Despreparo dos agentes de segurança, desprezo e desprestigio daquelas pessoas. Por isso, essa discussão fundamental do racismo estrutural. As pessoas esperam que, quando tenha racismo, as pessoas digam: 'estou te matando porque tu és negro'", disse o subprocurador para Assuntos Institucionais do MP-RS, Marcelo Dornelles.

Quem são os denunciados:

Giovane Gaspar da Silva: ex-PM temporário, autor da agressão

Magno Braz Borges: segurança, autor da agressão

Adriana Alves Dutra: funcionária do Carrefour que tenta impedir gravação e tem, segundo a polícia, comando sobre os demais funcionários

Paulo Francisco da Silva: funcionário da empresa terceirizada de segurança Vector que impede acesso da esposa à vítima que agonizava

Kleiton Silva Santos: funcionário do mercado que auxilia na imobilização da vítima

Rafael Rezende: funcionário do mercado que auxilia na imobilização da vítima

O G1 tenta contato com a defesa dos acusados.

O MP pediu que os denunciados respondam ao processo presos.

Relembre o caso

Em 19 de novembro, véspera do Dia da Consciência Negra, João Beto e sua esposa, Milena Borges, vão a uma unidade do Carrefour na Zona Norte de Porto Alegre. Eles fazem as compras e, já no caixa, por motivo ainda não esclarecido, João Beto vai em direção a uma funcionária do estabelecimento e faz um gesto.

A funcionária, em depoimento à polícia, disse que ele não aparentava estar fazendo uma brincadeira, mas que "parecia estar furioso com alguma coisa". Segundo ela, dias antes do crime, João Beto havia ido ao mesmo supermercado parecendo embriagado e sem máscara.

O ex-PM temporário Giovane aparece e, junto a Magno, que também era segurança terceirizado, e uma fiscal acompanham Beto até a saída da loja. Na porta para garagem, João Beto dá um soco em Giovane.

Os dois seguranças começam um confronto com João Beto e começam a espancá-lo. Eles tentam imobilizá-lo, colocando de bruços sobre o chão, e Giovane sustenta o joelho sobre a vítima.

Uma testemunha, cliente do mercado, disse que alertou sobre sinais de asfixia, mas os agressores ignoraram. A mulher de João Beto contou à polícia que ele dizia "Milena, me ajuda" e que, quando ela tentou socorrê-lo, foi empurrada por um dos homens.

O SAMU chegou para atendê-lo, mas João Beto já estava morto.

Giovane e Magno foram presos em flagrante. Dias depois, Adriana, que filmou a ação e impediu que João beto fosse socorrido, foi detida temporariamente.

Indiciamento e prisões

A Polícia Civil indiciou seis pessoas. De acordo com o inquérito, os depoimentos mostraram que houve indiferença dos funcionários vinculados ao Carrefour e à empresa de segurança Vector quanto às ações que cometiam contra a vítima.

Para a polícia, além dos dois agressores, os outros quatro indiciados contribuíram para a morte por manterem os populares e a esposa da vítima afastados, inviabilizando qualquer ajuda à vítima.

O que levou a polícia a indiciar seis pessoas por homicídio triplamente qualificado

De acordo com necropsia feita pelos legistas do Departamento Médico Legal, a vítima foi morta por asfixia.

Protestos

No dia seguinte, manifestações pela morte de João Alberto se espalharam pelo Brasil, no Dia da Consciência Negra. Na frente do supermercado onde foi morto, em Porto Alegre, pessoas levaram cartazes com inscrições de "Vidas Negras Importam", "Racismo é o Vírus" e "Justiça por João Beto".

Em São Paulo, manifestantes protestaram na 17ª Marcha da Consciência Negra, no vão do MASP. Já no Rio, o protesto foi em frente ao Carrefour da Barra da Tijuca, reunindo um grupo de pessoas com cartazes que diziam "Parem de nos matar".

Os protestos aconteceram em outras cidades do país, com reivindicações semelhantes.

João Alberto foi enterrado na manhã de 21 de novembro, no Cemitério São João, na Zona Norte de Porto Alegre.

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